Sem rei nem roque

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Objetivamente, o PS é hoje uma estrutura (quase) completamente sem rei nem roque. E tudo isto quando os portugueses estão pelas pontas dos seus maiores cabelos com a atual Maioria-Governo-Presidente. Sucedem-se cenas verdadeiramente impensáveis há uns meses atrás, para mais depois do PS ter ganho as suas segundas eleições e quando a mais recente sondagem voltou a repor a diferença entre o PS e a atual Maioria, embora todos eles com resultados longe do desejável.

A tudo isto, o PS responde com a mais cabal falta de unidade, determinando-se a suicidas debates entre personalidades de segunda linha nos nossos canais televisivos. É um espetáculo inenarrável, como ontem se pôde ver na TVI 24, e onde Eurico Brilhante Dias quase não podia responder a Marcos Perestrelo, com o moderador – Paulo Magalhães – a dizer que tudo estava bem!!

Um dado, porém, trouxe este debate à colação: o da diminuição do número de deputados para cento e oitenta, de molde a poder aniquilar, tanto quanto possível, a representação parlamentar dos partidos de esquerda. No fundo, o PS percebeu já esta realidade simples e que eu venho referindo desde há muito: nunca mais voltará a dispor de uma maioria absoluta, acabando, dentro da sua histórica tradição, por se coligar com o PSD ou com o CDS/PP. Foi sempre assim desde o dia 25 de Abril de 1974.

A este propósito, aproveito este meu texto para chamar a atenção da generalidade dos leitores para certa realidade que está em causa, mas, muito em particular, para os políticos. Como pude já escrever, os portugueses nunca tiveram um grande interesse na democracia. Nem antes nem depois da Revolução de 25 de Abril.

Hoje, como se pode perceber à saciedade, os portugueses passaram a descrer completamente da política, da democracia e dos próprios políticos. Esta realidade, para lá de não dever ser desligada da vitória de Salazar no concurso, O MAIOR PORTUGUÊS DE SEMPRE, nada tem que ver com a legislação eleitoral que temos, nem com o Sistema Político. Tem que ver, isso sim, com o desastre dos resultados humanos e sociais conseguidos agora: desemprego, pobreza, miséria, emigração e destruição do Estado Social.

Se agora se substituir o atual Sistema Político por um qualquer outro, isso gerará sempre um desligar ainda maior dos portugueses face à política. As suas referências são as atuais e já com quatro décadas bem testadas. O desinteresse deve-se ao falhanço e à corrupção que se encontra omnipresente no seio da sociedade portuguesa, e não ao Sistema Político em vigor.

Nenhum português comum, minimamente lúcido, pode aceitar a miséria geral, com a quase completa ausência de futuro, ao mesmo tempo que assiste à luxúria da vida de uma minoria. Os que assim reagem – são a enormíssima maioria – não estão contra o atual Sistema Político, mas contra a miséria imposta pelos políticos. E nunca aceitarão que os que vierem a seguir os atuais se venham a coligar com estes e a manter a destruição já imposta.

Significa isto, pois, que a tal mudança no Sistema Político irá gerar o mui generalizado desinteresse pelos partidos e pelo Sistema Político a criar. O problema prende-se com segurança e com dignidade humana e não com o Sistema Político. E a conclusão é simples mas muito dura: pode ser o fim da democracia em Portugal, reprovada pelo geral desinteresse dos portugueses. O bom senso, até a ciência, o que indicam é que as modificações em sociedades humanas devem sem lentas e muito parcelares, embora à luz de uma grande estratégia a implementar por larga maioria. De resto, as mudanças rápidas até na Natureza provocam graves danos.

Acho estranho, pois, que António Arnaut nos venha agora numa de aflitinhas ao redor das eleições no PS. Não há que ter receio, porque o PS, de Seguro ou de Costa, será o partido mais votado em 2015, mas nunca com uma maioria absoluta. O PS perdeu a credibilidade para poder merecer o depósito de uma tal esperança. Para o recuperar é essencial mostrar diferenças de fundo e de princípios, e essas assentam na reposição do Estado Social e na devolução dos bens espoliados aos atingidos pela política da atual Maioria-Governo-Presidente.

Se António Arnaut se determinar a pensar um pouco, facilmente perceberá que é certo o que aqui digo: os portugueses não estão contra o atual Sistema Político, mas contra os políticos que, por ação ou omissão, lhes vêm fazendo o que se vê. Ou o PS se define e mostra de que lado realmente está e com quem está disposto a governar, ou bastam o PSD e o CDS/PP. Ou até quaisquer outros. Precisa-se de clareza e de compromissos de legislatura e não de médio prazo. A fome e tudo o resto estão já aí estão e têm de ser atacadas agora.

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