Memória fraca

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Sem um infinitésimo de admiração foi como há dias recebi as declarações de Carlos Silva sobre o posicionamento da CGTP, mas também o artigo de Edmundo Pedro, no Público, PS: UMA DILAÇÃO PERIGOSA. De molde que me determinei a escrever algumas linhas sobre estas duas realidades.

Quanto à primeira, ela, em boa verdade, não merece um mínimo de atenção nem de crédito. Diz Carlos Silva que a CGTP é uma organização autofágica, amarrada a princípios político-partidários e assente numa política de destruição. Bom, discordo e concordo. Concordo quando acusa a CGTP de estar amarrada a princípios político-partidários.

Simplesmente, também discordo, porque isso é o que se terá de esperar de uma grande, real e representativa central sindical. Com as devidas diferenças, é assim que sempre procedeu a Igreja Católica, que não está por tudo, sempre pontapeada vezes sem conta e sempre cedendo, como, lamentavelmente, sempre eu vi com a UGT. Não calhou ainda ter de se caminhar para a eutanásia de velhos doentes, ou para a pena de morte, porque se os grandes poderes do Mundo calharem a ir por aí – já estão a ir –, de pronto teremos a UGT a mostrar-se à altura de dialogar com os proponentes de tais ideias.

Contrariamente ao que disse Carlos Silva, a CGTP não se deixa amarrar a princípios político-partidários, o que ela tem é princípios e valores, pelos quais luta e combate. Faz, no fundo, como a Igreja Católica: defende o que não se pode negociar, ao contrário da UGT, sempre pronta a tudo negociar. E sempre a perder em tudo.

Mas Carlos Silva tem de ter, neste domínio, um dado claro: existe um povo por cuja voz e opinião se exprime uma mui acertada prova real do que está aqui em jogo. E esse povo não duvida da razão que assiste à CGTP e da falta de razão de Carlos Silva. É essencial não esquecer os que nos ouvem, ou cometer-se-ão erros terríveis.

Por fim, o artigo de Edmundo Pedro. Um texto que me faz lembrar os que num ápice correm e gritam mal surgem os problemas que deviam ter previsto a tempo e horas. E achei graça à sua chamada de atenção para que é indispensável limitar rapidamente o espaço de manobra da direita. Tendo razão, a verdade é que tal caminho é agora muitíssimo difícil, sendo bom que Edmundo não esqueça o fortíssimo apoio de Mário Soares a Pedro Passos Coelho, quando diariamente nos dizia ser um jovem simpático e com quem se podia dialogar. Claro está que as eleições primárias constituem um erro, comportando mesmo riscos, tal como a diminuição do número de deputados para cento e oitenta. E só para diminuir a representação parlamentar dos partidos de esquerda. Mas onde estava Edmundo quando o PS decidiu tudo isto? E o que disse? E que posições tomaram Soares, Santos, Belém, Alegre, Guterres, Constâncio, etc.? Eu não ouvi nada. Como nada ouvi sobre a desgraça garantida da adesão à Europa ou sobre o euro. Eram tudo maravilhas e já só são o que se vê. E de quem foi a responsabilidade política? Só estive perto de Edmundo Pedro no Espaço Valbom, na noite do debate Freitas-Soares, mas sem o conhecer. Interrogo-me, porém – não esqueço o passado histórico-político do PS –, sobre o que fará o PS depois da próxima vitória eleitoral, naturalmente sem maioria absoluta – nunca mais voltará a conseguir? E o que acha Edmundo que deve fazer o PS? Ligar-se ao PSD? Ou seguir a minha defesa – também já de Diogo Freitas do Amaral – de um acordo com os partidos de esquerda, mormente com o PCP? Como é evidente, o PS corre hoje grandes riscos, mas nenhum é o de não vir a ser o partido mais votado, antes o de não vir a conseguir uma maioria absoluta. Mas como poderá o PS consegui-la se, no caso contrário, a garantia desde sempre conhecida é a de uma coligação com o PSD e a manutenção de tudo o que foi já feito pela atual Maioria-Governo-Presidente?

Edmundo Pedro tem de ser intelectualmente correto e reconhecer esta verdade de todos conhecida: o PS, ao longo da III República, sempre foi perdendo credibilidade, mas não por governar pior ou melhor, sim por tudo ir sempre cedendo aos herdeiros da direita derrotada pela Revolução de 25 de Abril. Para o PS, hoje, recuperar terá sempre de significar duas coisas: recuperar a economia e o desenvolvimento e repor o que foi injustamente retirado aos cidadãos. Fora disto, o PS já é politicamente prescindível, porque nos bastam o PSD e o CDS/PP.

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