As vesperas

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Contrariamente ao em mim usual, assisti desta vez a um jogo de futebol, embora através da transmissão televisiva. E por cinco razões essenciais: por ser a final da Champions, um torneio de grande referência; por ter o jogo lugar em Lisboa, capital do País; por envolver duas equipas do mesmo país, a Espanha; porque a transmissão televisiva nos fornece muitíssimo mais informação sobre quanto rodeia o acontecimento; e porque se está, deste modo, bastante mais resguardado de dolorosos imprevistos. E valeu a pena, uma vez que se tratou de um jogo de boa qualidade e muito emocionante e sem problemas de qualquer espécie.

A grande comunicação social vinha tratando o risco que este jogo poderia vir a comportar, tratando-se do histórico “derby” madrileno. Neste sentido, também as autoridades policiais portugueses, em franca cooperação com as suas congéneres espanholas, adotaram um dispositivo de segurança e ordem pública adequado aos riscos potenciais da efeméride. Felizmente (até ao momento em que escrevo este texto) tudo decorreu com grande normalidade e “fair-play”, no interior e no exterior do jogo propriamente dito.

Atendendo à fronteira comum entre Portugal e Espanha, mas também por ser Portugal a principal porta de entrada de estupefacientes no espaço europeu, provenientes do subcontinente americano, esta efeméride, em princípio, deveria ver-se rodeada das já mui conhecidas movimentações neste domínio. A verdade – seria difícil errar –, é que acertei completamente na minha previsão. Logo pela quinta-feira, aí pelo final do almoço, já era possível identificar movimentos inusuais e modificações ao nível dos circuitos de vida usuais de muita gente. Na sexta-feira, bom, foi já um verdadeiro espetáculo, até com muita gente a deixar o seu local usual de vida, e logo após o almoço. Houve mesmo quem deixasse Lisboa uns seis dias antes do jogo, percebendo-se que iriam deslocar-se para Espanha – era o mais provável. Uma espécie de controladores. E gente do melhor gabarito social, mesmo, até, muito católica.

Aí pelas duas e quarenta e cinco da tarde deste último dia tive até a oportunidade de apreciar duas carrinhas com freiras espanholas e matrículas a condizer, aparentemente procurando um qualquer encaminhamento. Podem ter existido razões as mais diversas para a sua presença ali, mas a grande verdade é que de há muito não via tantas freiras – vejo, raramente, uma ou duas e a pé –, para mais espanholas e em carros com matrículas do país nosso vizinho.

Se eu soubesse a solução do Euromilhões como devo estar certo sobre quanto envolveu, ao redor deste desafio histórico, o ambiente do tráfico transnacional de estupefacientes, bom, caro leitor, era já um homem materialmente poderoso. E resultados de tudo isto? Bem, até agora nada. Uma palavra – esta última – que me traz ao pensamento o filme, A NAVE DOS LOUCOS, já mesmo na sua última cena: nada.

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