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| Hélio bernardo Lopes Escreve diariamente |
Lembro-me até muito bem de um dia ter dito a certa grande amiga minha que a mesa por nós diariamente utilizada, mesmo ao lado de certo telefone público localizado no interior do café, bem poderia servir para escutar conversas tidas ali na própria mesa. Mas ela riu e duvidou: quem é que iria fazer uma tal coisa, para mais ali, dentro do café?
Certo do que lhe dissera, levei no dia seguinte comigo um gravador a pilhas e de audiocassetes, bem como um rolo de adesivo extremamente forte. Mal chegou, levantei-me de imediato, e disse-lhe que precisava de ir ali próximo e que já voltávamos ao café, a fim de estarmos mais algum tempo e com calma para falarmos. Lá fomos e regressámos, sempre sem que a minha amiga soubesse que eu colocara o gravador por sob a mesa, já a gravar o que surgisse.
Quando nos voltámos a sentar, depois de saírem duas senhoras conhecidas e muito simpáticas, eu disse-lhe o que se passara e que retirasse o gravador que estava preso sob o tampo da mesa. Estupefacta, lá procurou com as mãos, fazendo a força necessária para retirar o gravador. Continuava a trabalhar. Parámo-lo, rebobinámos a cassete, e deitámo-nos a escutar a conversa das nossas duas conhecidas, boa parte da qual a nosso respeito. Até o nosso regresso, visto pela montra, foi comentado: ela é, de facto, muito bonita e engraçada, e o tipo veste sempre impecavelmente. Mas ouvimos muitas coisas mais...
Hoje, como se sabe, tudo é muitíssimo mais fácil e melhor que com aquela brincadeira de há uns vinte e poucos anos. Isso mesmo nos relatou ontem, mais uma vez, Edward Snowden, ao contar ao Mundo que os bonecos Furbies foram utilizados pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, para ver ou ouvir conversas em todo o país. Por esta via, terão sido espiadas cerca de dois milhões de pessoas, quer usando webcams, quer microfones, implantados no interior dos bonecos Furbies.
Mas Snowden diz mais: a própria Agência Nacional de Segurança proibiu, já pelo fim da década de noventa do passado século, a presença de tais brinquedos nas suas instalações, bem como noutras de agências sensíveis da comunidade de informações norte-americana. É tudo uma simples questão de se ter alguma imaginação, sendo que com coisas simples se podem obter resultados excelentes e muito imprevisíveis.
É hoje mui frequente procurar fotografar gente que sabe demasiado, fazendo sentar outra na mesa ao lado, que por aí anda na boa vida, de molde a poder usar tais fotos como elementos de prova mais tarde, se tal se mostrar necessário. Até simples pedidos de informações em plena rua, convenientemente filmados, se podem tentar usar mais tarde como elementos probatórios. Ou mesas de café, usualmente usadas por habituação forte a certa hora do dia, colocadas de um modo inusual, assim apontadas como uma marca pré-combinada. Ou, ainda, a penetração de computadores por meio de cavalos de Tróia, seja lá a finalidade a que for.
Vive-se, pois, o tempo d’O DSPERTAR DOS MÁGICOS, onde a segurança de cada um está hoje mais ameaçada que nunca. O nada, num ápice, pode tornar-se em tudo. É o tempo em que se conhece, de caras, a solução dos mil e um problemas que por aí se badalam, mas sem que se consiga esclarecer formalmente os mesmos. É o tempo da democracia do vale tudo.
