Do vermelho ao laranja

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Neste mais recente sábado, do modo mais inesperado para mim, eis que vi surgir no meu televisor, em pleno noticiário da hora do jantar, o antigo bispo de Setúbal, Manuel Martins. Tinha, naturalmente, de vir perorar sobre política, e não me foi muito difícil imaginar o teor global das suas palavras. Momentos depois, estava confirmada a minha impressão de sempre: o tal histórico bispo vermelho, afinal, é laranja. Aliás, foi-o sempre.

Os mais velhos recordar-se-ão com clareza da dureza das críticas à ação política do Governo de Mário Soares, mas não terão conseguido ainda vislumbrar uma crítica de jeito, mesmo que ínfima, à política da atual Maioria-Governo-Presidente. Não tendo nunca sido vermelho, a globalidade do seu comportamento como bispo o que nos mostra é que é alaranjado. Sem espanto, foram duas as suas linhas de intervenção nesta sua curta aparição.

Em primeiro lugar, e como sempre teria de dar-se, o grande apreço por Francisco I e por tudo quanto vem fazendo ou dizendo. A verdade é que o nosso histórico bispo, como todos os restantes, teria sempre de dizer o que agora se lhe ouviu. Tivesse Francisco I dito e feito exatamente o contrário, e do bispo emérito de Setúbal, Manuel Martins, ouviríamos os mesmos encómios ao seu Papa. Ossos do ofício...

E, em segundo lugar, qual democratão, o bispo emérito de Setúbal, Manuel Martins, apontou dois grandes culpados pelo rumo atual do País: os partidos políticos e os sindicatos. Precisamente dois pilares essenciais à vida democrática de qualquer Estado que não seja muito totalitário. De um modo claramente populista, de pronto procurou ir ao encontro dos alvos mais imediatos do mal que varre o País e o Mundo. O tal bispo que se dizia ser vermelho, mas que sempre foi, de facto, bem alaranjado...

Não lhe ocorreu o neoliberalismo, nem a globalização, nem a ética do dinheiro como valor supremo. E compreende-se que assim seja, porque a Igreja Católica, afinal e depois de tudo, lá acabou por manter o seu banco... Jesus expulsou os vendilhões do Templo, mas a Igreja Católica mantém o Instituto de Obras Religiosas. Um sinal de hoje e de sempre. Claro que agora tudo se faz com supervisão, que era o que também existia entre nós ao tempo dos casos BCP, BPN e BPP. E até nos Estados nidos, como se pôde ver com um estrondo universal. Enfim, um democratão…

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN