É mentira! É mentira!!

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Graças à balbúrdia do atual Governo PSD/CDS, de parceria com a quase ausência do Presidente Cavaco Silva, a tragédia de vida dos portugueses lá consegue ir sendo temperada com a risota que aquele lhes suscita. Uma realidade que se vai sentindo a cada dia que passa, estranhando-se a ausência da mesma para lá dos três dias.

Isso mesmo foi agora suscitado pelas revelações do Governo em matéria de novos cortes, nos salários e nas pensões, e a muito curto prazo. Uma revelação de pronto negada pelo Primeiro-Ministro em Moçambique – costuma dizer que não fala de assuntos internos fora de Portugal...–, sob o argumento de que nada está sobre a sua secretária!!

É claro que tem razão, embora fosse preferível dizer que nada chegou ainda àquele seu móvel de trabalho. Simplesmente, o que conta é o que o Governo explicou aos jornalistas, que, em uníssono, expuseram aos portugueses o que estes de há muito perceberam: irão ser reduzidos à pobreza e à miséria, e já para o ano que vem.

Hoje, já com três anos da atual Maioria-Governo-Presidente, os portugueses sabem bem o estado em que foram obrigados a viver. Ou antes, sobreviver, emigrar ou morrer. Tive a oportunidade de explicar tudo isto, por escrito ou em conversas com amigos ou conhecidos, mas a grande verdade é que muito boa gente não quis acreditar. A realidade, infeliz e dolorosamente, está bem à vista.

Mas foi muito engraçado poder escutar os autênticos gritos de aflição ao redor da revelação prestada pelo Governo aos jornalistas, fosse pelo próprio Primeiro-Ministro, fosse por Teresa Leal Coelho, fosse por António Nogueira Leite, até por Nuno Melo. Uma aflição, trazendo-nos ao pensamento gente que grita de aflição: é mentira!, é mentira!! A realidade, porém, é que já todos perceberam que é verdade. Sempre se soube ser este o objetivo, logo desde o tristemente célebre livro de Pedro Passos Coelho, lançado na Gare Marítima de Alcântara, mas a que até Mário Soares não prestou grande atenção.

De molde que surge a questão: sendo já uma realidade transmitida aos jornalistas pelo próprio Governo, e que apanhou o Primeiro-Ministro completamente de surpresa em Maputo, o que pode agora o PS garantir aos portugueses que fará se vier a governar Portugal? Se não apoia os cortes que se vêm fazendo e se sabe agora, pelo próprio Governo, que eles irão continuar a ter lugar, o que tem o PS a dizer aos portugueses? Que se encontra tolhido? Que tem valores, mas que não consegue aplicá-los? O que tem o PS a dizer aos portugueses sobre a desgraça humanitária que se aproxima?

Tal como eu me dei conta por meados da década de oitenta do passado século e tantas vezes expus a conhecidos ou amigos, a direita estava apostada em pôr um fim, tão definitivo quanto possível, no Estado Social que a Constituição de 1976 havia concedido aos portugueses. Todos sempre negavam, embriagados com a ideia de que a democracia era levada a sério pelo ambiente dos grandes interesses, e sem perceberem que se limitavam a votar em programas apresentados por compatriotas que não controlavam. O fim do comunismo ajudou à aceleração da História, agora a passos de gigante para um Mundo uniformemente empobrecido e onde a vida só vale se gerar riqueza para uma minoria.

Mas, enfim, o que ainda nos vai dando algum bem estar gracioso são estes momentos de aflição como o ora vivido ao nível das hostes governativas: o que foi em Lisboa – e vai ser a breve prazo –, ainda não era em Maputo, tudo acompanhado dos tais gritos de aflição de que se tratava de uma mentira. De facto, ainda nada está sobre o móvel de trabalho do Primeiro-Ministro. Não está ainda, mas vai estar a breve prazo, como o Governo claramente explicou aos jornalistas. Como foi interessante ouvir gritar: é mentira!, É mentira!! É o Portugal de Abril, quatro décadas depois do Movimento das Forças Armadas... O Portugal em que Ana Gomes nos vem agora explicar que uma coligação futura com o PSD é possível, mas não com este, antes com o verdadeiro, o legítimo, o de Abril, que sempre defendeu um modelo político-social liberal. É caso para dizer: eu quér’ápláudirr!!

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