A comunicação Social Livre

Hélio Bernardo Lopes
Foi com um gosto deveras saboroso, para mais no meio do estertor a que Portugal e (quase) todos nós chegámos, que ontem mesmo acompanhei o comentário de José Sócrates na RTP, desta vez tendo como interlocutor José Rodrigues dos Santos.

Não tinha dúvidas de que o estilo do jornalista seria completamente distinto do dos seus antecessores, que eram também diferentes entre si, mas acabei por achar graça à conversa.

José Rodrigues dos Santos esteve longe da sua qualidade jornalística e até académica, porque se deixou resvalar para a posição de antagonista político de José Sócrates, que estava ali, naturalmente, para comentar os assuntos mais importantes e também recentes da vida social, seja a interna ou a internacional. E, para mal dos pecados do jornalista, a verdade é que quase perdeu com o comentador por knock out.

É até interessante comparar este modo de José Rodrigues dos Santos atuar com um comentador, com o usado, por exemplo, por Judite de Sousa – ou Júlio Magalhães – com Marcelo Rebelo de Sousa, em que Judite simplesmente nada opõe ao comentador, e seja do modo que for. Ou, por exemplo, o que Manuela Moura Guedes em tempos utilizou com Miguel Sousa Tavares, que em certo dia levou este a uma explosão, comparando, precisamente, com o que se passava com o par Judite-Marcelo.

José Sócrates, neste seu tempo televisivo dominical, é um comentador político, e não deve ser confrontado com o entrevistador como se este seja um seu adversário partidário. Além do mais, este entrevistador tem, até pela sua craveira e pela sua vasta experiência jornalística, a obrigação de perceber que José Sócrates não será facilmente vencível se tiver razão, como se dá quando se operam comparações entre o seu ontem e o hoje da atual Maioria-Governo-Presidente. Nós estamos hoje muito pior do que há três anos atrás e estamos sem futuro. Raros serão os portugueses que pensam de outro modo.

Por fim, um erro, que me pareceu clamoroso, de José Rodrigues dos Santos: a palavra reestruturação usada por Sócrates no debate com Francisco Louçã nada tinha que ver com a mesma, mas usada no recente Manifesto dos 74, depois apoiado pelo segundo dos estrangeiros de vinte nacionalidades. Recordo muito bem o referido debate entre Sócrates e Louçã – era para mim o mais ansiosamente esperado, até pela admiração que sempre nutri pelo bloquista – e ninguém duvidou de que a ideia do segundo era completamente distinta da utilizada pelas cento e quarenta e oito personalidades recentes. Foi uma má página jornalística de um grande jornalista, também escritor e talvez até académico.

Depois desta espécie de frente a frente, e das reportagens de há uns dias em Kiev e na Crimeia, voltaram a surgir-me ao pensamento as velhas, históricas e muito agradáveis discussões noturnas com o matemático meu amigo sobre, entre tantas outras coisas, a dita comunicação social livre. Era um tempo em que eu ainda nela acreditava, embora já reconheça de há muito o meu erro. O peso da idade, do saber e da sabedoria dos mais velhos e estudiosos desde sempre.

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