Zigue-Zagues

Há uns dias atrás, e por um mero acaso, calhei a passar pelo canal televisivo, TVI 24, onde estava prestes a terminar um debate sobre o Orçamento de Estado, em que estavam presentes académicos diversos das áreas económica e financeira, sendo que um deles era Luís Campos e Cunha.

Com o programa mesmo à beira do seu fim, ainda pude escutar deste académico a notícia de que nunca poderíamos deixar o euro, e por razões que expôs de modo rápido e não são essenciais para o objetivo deste meu texto.

A uma primeira vista, se não podemos deixar o euro, tal quererá também dizer que não podemos sair da União Europeia, ainda que só por consequências de natureza técnica económica, e não por razões de natureza jurídica.

Ora, esta mesma posição, embora ao tempo sem o euro, não foi a assumida por Cavaco Silva, numa entrevista concedida a Artur Albarran, António Perez Metelo e um outro jornalista, quando desempenhou as funções de Primeiro-Ministro, porque na altura se pôde ouvir de Cavaco Silva que Portugal poderia sair da Europa quando quisesse.

Acontece que nas discussões internas sobre o Tratado de Lisboa foi sempre explicado pelos seus defensores que, a partir da sua aprovação, os países que assim entendessem poderiam deixar esta estrutura, ou seja, ao contrário do que disse Cavaco Silva naquela sua entrevista, antes deste recente tratado tal não era possível.

Estranho é, pois, que agora, já com o Tratado de Lisboa aprovado, nos venha Luís Campos e Cunha dizer que não podemos deixar o euro, porque tal terá de querer dizer que, afinal, também não podemos sair da União Europeia. Autênticos zigue-zagues, portanto.

Termino, pois, meu caro leitor, com esta chamada de atenção: isto, que agora pode ver e ouvir, e tudo o mais que diariamente lhe chega pela grande comunicação social, é que é a democracia... Já se deu conta de que Bernard Maddoff, afinal, foi o único condenado nos Estados Unidos por causa dos crimes que conduziram à derrocada internacional? E percebe porquê? Pois, porque o sistema neoliberal, com menos Estado para melhor Estado, como uns quantos cantam, vive, precisamente, de burlões como aquele, pelo que não é possível metê-los todos não prisão, ou ruiria todo o sistema. Isto, meu caro leitor, é que é a democracia.

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