A lhéngua do planalto

O resultado do estudo da linguista Manuela Barros Ferreira caracteriza o Mirandês, que foi reconhecido por lei no fim da década de noventa, como sendo "uma língua do Nordeste de Portugal que ocupa uma área de 500 Km2. Teve origem num dos romances peninsulares formados a partir do latim vulgar, nomeadamente do asturo-leonês, pelo que pertence ao grupo das línguas românicas. A sua formação foi um processo longo, contemporâneo da formação galaico-portuguesa. Sofreu grande influência do Português, sobretudo a partir do século XVI, tendo chegado a ser inteiramente substituído por este em Miranda do Douro. Foi conservada nas aldeias envolventes como língua de transmissão oral. Na actualidade, não é falada por mais de sete mil pessoas, mas, se se acrescentar os emigrantes, o número poderá rondar os 12 a 15 mil falantes".

Mas o mirandês foi dado a conhecer em 1882 por José Leite de Vasconcelos numa visita ao planalto mirandês: "Não é o Português a única língua usada em Portugal, aqui fala-se também o Mirandês" afirmou o escritor e filólogo.

Amadeu Ferreira, escritor e estudioso da "lhéngua" defende que é necessário "começar a alfabetizar em Língua Mirandesa, à semelhança do que aconteceu no período pós-25 de Abril com a população adulta em relação à Língua Portuguesa" e explica que "hoje, o Mirandês já não é apenas uma língua oral que sobreviveu num rincão trasmontano confinado ao concelho de Miranda do Douro e parte do de Vimioso; para saber escrever em Língua Mirandesa (a segunda língua oficial em Portugal), é preciso estudar e aprender; este é o momento certo para começar a alfabetizar as pessoas, ensinando-as a escrever a sua língua, mas também a poderem ler o Mirandês", declarou Amadeu Ferreira ao JN.

Quem tiver vontade de aprender o Mirandês e enquanto o Ministério da Educação não assume a responsabilidade de alfabetizar aqueles que queiram aprender esta língua, existe um grupo de pessoas preparadas para o fazer.

Existem também, uma série de instrumentos de aprendizagem. Além da gramática da "lhéngua", cuja data é de 1900, existe também a Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa, gramática e dicionários de Mirandês, uma vasta colecção de publicações quer em prosa, quer em poesia de autores que estudaram e aprenderam a escrever o Mirandês.

On line existe um dicionário de aproximadamente de vinte e cinco mil entradas e neste momento está em fase embrionária a publicação de uma nova gramática da "lhéngua", para substituir a de 1900.

A Junta de Freguesia de Sendim, uma freguesia do concelho de Miranda do Douro, promoveu um curso de Mirandês que juntou à volta de 30 alunos dos concelhos de Miranda do Douro, do Porto e de Braga.

A Associação de Língua Mirandesa, sedeada em Lisboa, devido ao interesse cada vez maior por esta lingua, lecciona cursos de Mirandês há já seis anos, por onde já passaram mais de 200 alunos, na maioria mirandeses, distribuídos por duas turmas, sendo uma em Lisboa e outra em Corroios.

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