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|Hélio Bernardo Lopes| |
Ora, no dia em que escrevo o presente texto teve lugar mais uma amplíssima intervenção das nossas autoridades competentes sobre diversas autarquias do País. Ao que se noticiou, 18. Mas por igual uma outra intervenção sobre gente ligada a determinada grande empresa, que terá sido quem expôs o que pensava passar-se a quem de Direito. Portanto, mais um dia cheio de novidades. E novidades bastante tonitruantes.
Por tudo isto, para mais depois do recente caso de autarquias da zona portuense, seria natural que estes temas fossem abordados nas convivências correntes. De resto, nos dois cafés em que estive, de manhã e à tarde, lá estava o televisor a debitar a correspondente informação sobre estes dois acontecimentos desta quarta-feira. A verdade é que, sobre tais temáticas, nem uma palavrinha. E numa das tertúlias de amigos o respetivo número era da ordem de sete. Simplesmente, nem uma palavra sobre os grandes temas do dia.
Já no regresso a casa, depois do café do almoço, encontrámos um amigo nosso, tendo-lhe colocado a notícia, naturalmente na presunção de que saberia, pelas três e meia da tarde, o que vinha tendo lugar, até porque é pessoa muito bem relacionada e natural de um dos concelhos visados nas notícias. Sem espanto, sorrindo interiormente, dele recebi a resposta mais que esperada: não, não tinha ainda sabido de nada.
Retomado o caminho de casa, chamei a atenção de minha mulher para o que acabara de ver e ao longo de todo o dia: não só ninguém falava do tema, como até o nosso amigo também dizia nada saber da visita da PJ à sede da autarquia do seu concelho. Está bem viva, portanto, a velha e repugnante regra de que o calado é o melhor. Uma regra que penso ter aperfeiçoado há já umas décadas, procurando definir o modo de ser português: não viu, não ouviu, não sabe, não pensa, obedece.
Nós tivemos a Revolução de 25 de Abril, dela nascendo o excelente texto da nossa Constituição da República, mas o medo continua presente, e em crescendo, no seio da nossa comunidade humana. De molde que também eu já não me determinei a telefonar a quem quer que seja, porque não posso também assumir a mania de que sou corajoso e melhor que todos os restantes. Já dizia um histórico conhecido meu, há uns bons anos, com aquela sua voz de baixo: qué que tu julgas, ó Hélio, tu também és sério a mais, é tudo a roubar e quem se lixa é quem é sério! Hoje, sobre o que aqui não me diz respeito, estou já firmemente convencido de que o meu conhecido devia ter razão. Continua presente em Portugal o nosso histórico medo. E já agora: João Miguel Tavares já se terá dado conta desta realidade?