Quarenta e cinco anos

|Hélio Bernardo Lopes|
Têm estado a decorrer as comemorações dos quarenta e cinco anos da Revolução de 25 de Abril, que permitiram perceber, agora já com extrema clareza, que o PS se está a aproximar velozmente, sob a batuta político-ideológica do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, de um caminho de consonância futura com o PSD de Rui Rio, deixando para trás o excelente acordo estabelecido com o Bloco de Esquerda, PCP e Verdes e cujos resultados se mostraram extremamente vantajosos para a grande maioria dos portugueses, mas também o próprio Estado Social, tal o mesmo se mostra útil para a comunidade humana portuguesa.

Está a ser deveras interessante (e muito significativo...) o pinote dado agora pelo PS de António Costa, ao redor da futura Lei de Bases da Saúde, indo completamente a reboque das exigências do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, e virando as costas às posições já assumidas com os partidos da Esquerda. Uma luta cabalmente perdida em favor da estratégia da Direita, que virá um dia, logo que a situação o permita, a fazer o que agora o Presidente da República diz ser ilógico, mas ao sabor das suas posições de sempre.

Igual interesse merece a prática político-constitucional atual, com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, de facto, a definir os limites e objetivos da governação. E se Marcelo o diz, num ápice o Governo obedece. Enfim, uma triste sina, porque nós temos a democracia, até a separação de poderes, mas quanto baste... E sempre à luz dos pontos de vista político-ideológicos do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, membro desde sempre do seu PSD.

Um pouco a talhe de foice, também não deixa de ser interessante a grande machadada sofrida pelos professores na sua luta contra o atual Governo, agora que se tornou claro o que um qualquer Governo futuro terá de vir a fazer...

A tudo isto há que adicionar os sinais já dados pelo PS no sentido de vir a mudar a Lei da Greve. É caso para que muitos desatentos digam: ao que chegou o PS, para mais pela mão de António Costa. A grande verdade, todavia, é que o Mundo só chegou ao estado que hoje se conhece por via das mil e uma piruetas praticadas pelos partidos da Internacional Socialista, que nunca foram além de pregões ao redor do socialismo democrático e da defesa do Estado Social. E, tratando-se só de palavras, o vento lá se encarregou de as levar. Um domínio onde as intervenções de Jorge Coelho, agora na Circulatura do Quadrado, valem por tudo o mais.

De um modo objetiva e indiscutivelmente populista, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa salientou que os jovens de hoje pedem respostas rápidas e claras aos seus problemas e querem respostas inequívocas para algumas perguntas urgentes, sendo que os políticos de hoje também valerão muito pouco se não forem mais rápidos na educação, saúde e solidariedade social. Claro que estas palavras valem sempre como um aríete contra quem está no exercício da governação, potenciando as posições de permanente maledicência da Direita e da grande comunicação social que lhe é afeta. Além do mais, o Presidente da República, para lá destas considerações, nada realiza de concreto, ficando-se por beijos e abraços, fotos, condolências ou parabéns. Como há dias escrevi, é fácil. É muito fácil.

Por fim, o Presidente da República apontou o caráter fortemente democrático da juventude de hoje, que não deseja mudanças passadistas nem imobilismo. E se este último ponto traduz uma realidade, já o assumir íntimo do valor da democracia está anos-luz das preocupações dos jovens atuais. Objetivamente, os jovens de hoje têm tanto de espiritualidade democrática como de sentimento europeísta: aceitam, claro está, a União Europeia, mas porque a mesma nada lhes diz e parece ser uma coisa moderna, que acabou por criar raízes inerciais mas não sentidas e menos ainda dominadas.

E mesmo por fim, as extremamente claras palavras de Rui Rio: terá de ser o PS a aproximar-se dos sociais-democratas para haver um entendimento quanto à Lei de Bases da Saúde... É o primeiro passo de um projeto muito antigo, materializado na privatização do setor da Saúde, com um suporte público tão ínfimo quanto possível para a generalidade da população. E sabe o leitor que mais? Pois, o PS de António Costa, sob a batuta político-ideológica do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, é isto mesmo que vai fazer: ceder, como sempre fez o PS.

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