Uma situação difícil

|Hélio Bernardo Lopes|
Tenho já em minha casa um exemplar da obra, NO ARMÁRIO DO VATICANO, de Frédéric Martel, cuja leitura criou em mim uma ansiedade profunda ao redor da vida interna da Igreja Católica Romana, mormente ao nível do Vaticano. Nada, claro está, que não se conheça já, mas que terá sempre um outro valor quando deriva de um estudo profundo, longo e muito diversificado, como o operado pelo francês autor da obra.

Terminados os dois que estou a ler no presente momento, um deles de Bruno Maçães, o que poderá ter lugar pelo início da próxima semana, deitar-me-ei a avançar neste de Martel. Em todo o caso, dado o grande interesse do tema e o muito que do mesmo já se conhece, é bem possível que já nesta noite possa avançar um pouco nesta nova obra. Estou, indubitavelmente, em pulgas, como usa dizer-se.

No entretanto, teve início um grande congresso sobre esta temática ao nível da Igreja Católica Romana, promovido pelo Papa Francisco. Um congresso de que se diz vir a deixar as grandes linhas destinadas a pôr um ponto final na vaga de homossexualidade que varre mui amplos setores da hierarquia da Igreja, mas também de pedofilia, uma dolorosa realidade que tem atingido milhares de concidadãos nossos do Mundo. Até seminaristas e freiras, para lá de crianças, incluindo algumas portadoras de insuficiências mais ou menos graves.

Tenho para mim que a vontade do Papa Francisco em desenvolver essas linhas de prevenção é grande e sincera, mas, como pude já escrever, o problema é estrutural e muitíssimo vasto, o que me leva a crer que poderá não ter uma solução capaz. A verdade é que um general não faz um exército, sendo que Francisco tem uma vasta legião de obstáculos diante de si. O principal desses obstáculos deriva do número de gente envolvida neste tipo de realidades, sendo o segundo o facto de a Igreja Católica Romana não possuir uma estrutura adequada ao combate a este tipo de realidades. Bem pelo contrário: é a sua estrutura e regras que potenciam tudo isto.

Não sendo adivinho, não podendo atribuir ao Papa Francisco este ou aquele pensamento mais íntimo, custa-me acreditar que Francisco não tenha já dúvidas profundas sobre o sucesso do seu combate. Encontro uma manifestação deste sentimento nas suas referências doloridas contra os que poderão andar ligados ao diabo, por, nas suas palavras, passarem o seu tempo a atacar a Igreja sem parar.

Não o conhecendo, não lhe tendo acesso, sempre gostaria de lhe ouvir uma indicação sobre o que se deveria fazer? Porque calar, esconder, dominar, minar e desgraçar foi o que foi tendo lugar ao longo de décadas, quase certamente mesmo séculos. Sair do estado de descrédito a que a Igreja Católica Romana chegou pressupõe um sacrifício que nunca será fácil de aguentar. E não é seguro que se venha a lograr um êxito neste domínio, porque a estrutura interna da Igreja é que favorece a realidade hoje à vista de todos. E – há que dizê-lo – isto ainda não é tudo, mormente no domínio da variedade criminal. Isto é, isso sim, o que se conseguiu conhecer ao nível do Primeiro Mundo, porque nas vastíssimas regiões da Terra onde reinam a pobreza e o atraso de toda a ordem, bom, pode facilmente imaginar-se o que se deverá passar. Uma imaginação suportada numa elevada probabilidade de corresponder à realidade.

Por entender ser esta a realidade, eu até compreendo os que o criticam por ter trazido estas realidades para as bocas do Mundo, uma vez que, como facilmente se percebe, o problema, em face da estrutura interna da Igreja Católica Romana, não tem solução. Vai-se resolvendo, agora aqui, amanhã ali, etc.. Mas a solução (quase) geral nunca chegará. Como usa dizer-se, é dinheiro deitado à rua. Deus ajude a ação de Francisco.

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