Ora, ora...

|Hélio Bernardo Lopes|
Na passada semana, naquela que foi a antepenúltima edição da QUADRATURA DO CÍRCULO, José Pacheco Pereira expôs a ideia de que o PSD, desde há uns anos a esta parte, vem tendo na sua liderança um leque amplo de membros mações. 

Uma afirmação que logo levou Jorge Coelho a deitar mão daquele seu estilo muito conhecido, evitando tocar em temas que possam, seja do modo que for, vir a mostrar-se sensíveis. Bom, deitou mão do velho método bissetriz, como em tempos Adelino Amaro da Costa apontou como sendo a atitude política do Presidente António Ramalho Eanes. Um tema que já abordei.

Surgiu daqui, para mais com o combate que Luís Montenegro se determinou a fazer a Rui Rio a desenrolar-se de um modo veloz, a novidade da hipotética pertença de Luís Montenegro a uma qualquer loja maçónica. Simplesmente, Jorge Coelho tem uma perceção aguda de que as mudanças no seio da sociedade portuguesa são, muito acima de tudo, aparentes. Percebe facilmente que existem linhas constantes, culturais e identitárias, no seio da comunidade portuguesa. Portanto, nada como evitar aproximarmo-nos dessas linhas de demarcação muito antigas. E para mais agora, quando boa parte do tempo está a voltar para trás...

O tempo passou – quase uma semana – e nunca mais se falou nas nossas televisões sobre a tal hipotética pertença de Luís Montenegro à referida loja maçónica. O problema é que anda por aí o OBSERVADOR, claramente alinhado, ao menos no domínio tático, com as forças conservadoras e/ou de Extrema-Direita, que já conseguiram encontrar um caminho para se darem a conhecer, tentando chegar ao poder, procurando mesmo congregar o espaço da Direita, digamos assim. No fundo, seria um regresso à vivência político-social do Estado Novo, mas com partidos políticos. Uma realidade a que se impõe somar a fatídica mudança do Sistema Político – se o PS vier a cair num tal canto de sereia –, cujo desfecho será o controlo da Assembleia da República pela Nova Direita – aliás, rejuvenescida.

Sem espanto, embora já tardiamente, aí nos surgiu Luís Montenegro a garantir-nos que não tem nenhuma ligação à Maçonaria. Sendo assim, como no-lo garante Luís Montenegro, porquê este seu desmentido, à laia de esclarecimento? Imaginará o leitor que se José Pacheco Pereira tivesse dito que ele era sócio do Benfica, nos surgiria da sua parte uma reação como a ora vista? E se as palavras de José Pacheco Pereira tivessem incidido sobre a Opus Dei – uma situação deste tipo nunca teve lugar, até mesmo com Isabel Jonet, ao tempo da sua tristemente célebre entrevista num programa televisivo? Pois, se nada tem que ver com a Maçonaria, só se justifica vir agora dar uma tal garantia, depois de ser apontado por José Pacheco Pereira, com um posterior eco em Rui Rio, se se reconhece que, nos dias de hoje e na sociedade portuguesa, ser mação é uma qualidade pouco reconhecida. É uma fantasia, mas é esta a realidade. Ou não tenho razão? Claro que tenho!

Ou bem me engano – veremos amanhã –, ou Luís Montenegro, como usa dizer-se, meteu, bem fundo, um pé na argola.

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