Esforço inglório

|Hélio Beranrdo Lopes|
Vai prosseguindo, como se tem podido ver, a balbúrdia no seio do PSD e, de um modo mais geral, no domínio da Direita e da Extrema-Direita, hoje já quase completamente saída do armário. 

Uma balbúrdia que prossegue por via de diversos vetores de intervenção, de que merecem especial referência o recente MEL, mas também – de facto, sobretudo – a esperadíssima aparição, qual salvador, de Luís Montenegro. Valerá a pena escalpelizar aqui, um pouco mais concretamente, o que se vem passando com o PSD de Rui Rio, aproveitando para clarificar um aspeto que reputo importante.

Em primeiro lugar, se tivesse de escolher entre Rui Rio e Luís Montenegro, escolheria sempre aquele e nas primeiras mil escolhas. Mas também devo dizer que prefiro, sem margem para dúvidas, o atual Governo de António Costa, suportado como se conhece, a um outro do PSD, com Rui Rio ou sem ele. E a razão essencial desta tomada de posição deve-se à defesa do Estado Social e ao seu aperfeiçoamento.

Em segundo lugar, é essencial ter presente que o PAF não conseguiu, nas anteriores eleições para deputados, a maioria absoluta que vinha de trás, ficando-se por uns magros 38 % dos votos validamente expressos. Se a esta percentagem se retirarem cerca de 8 % como sendo do CDS, sobra um PSD de Pedro Passos Coelho com apenas 30 %, valor muito próximo da magreza em tempos conseguida por Pedro Santana Lopes e que o fez deixar a liderança do seu partido da altura.

Em terceiro lugar, há que ter em conta a falta de credibilidade das sondagens, por cá e um pouco por todo o Mundo. O que significa que os números que vão surgindo na nossa grande comunicação social, objetivamente alinhada com a Direita, valem o que facilmente se percebe: muito pouco, para não dizer mesmo nada. Ainda assim, os números ora atribuídos ao PSD de Rui Rio estão longe de se mostrarem muito inferiores ao resultado do PSD na última eleição do PAF.

Em quarto lugar, é essencial olhar, sem tergiversações, para o que se vem passando ao redor de Rui Rio e da sua liderança. Rio concorreu à liderança do seu partido contra Pedro Santana Lopes. Como se sabe, foi o vencedor desta contenda.

Em quinto lugar, Pedro Santana Lopes recebeu o amplíssimo apoio dos designados passistas, que logo se mostraram, por palavras ou através da grande comunicação social, como hipercríticos da personalidade de Rui Rio. A menos, porventura, que este viesse a corporizar uma reedição da política neoliberal de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas e se mostrasse, ao menos por via das tais sondagens, como um potencialíssimo vencedor em futuras eleições.

Em sexto lugar, percebeu-se que Rui Rio, naturalmente, viria a constituir as diversas listas de candidatos do PSD à luz dos seus objetivos estratégicos e tendo em conta a essencial lealdade e apoio da mesma e à sua pessoa. Uma situação que acarretaria para grande parte dos que vivem da política há muito o terem de procurar um caminho de vida talvez bem mais duro.

Em sétimo lugar, este grupo, para lá de se enquistar, foi perseverando em atacar, de todo o modo e feito, a liderança de Rui Rio, para o que contou, com extrema facilidade, com a complacência de uma enorme parte da grande comunicação social.

Em oitavo lugar, tudo isto permitiu perceber que os tais consensos há tanto brandidos pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa simplesmente se mostraram impossíveis, dado que a destruição do Estado Social é um objetivo estratégico (e de sempre!) da Direita portuguesa – PSD e CDS –, hoje já acompanhada da Extrema-Direita, que já pode agora manifestar-se publicamente na sequência do triunfo de Donald Trump, recentemente reforçado com o de Bolsonaro e de tantos outros que por aí andam. Até na Alemanha já surge uma contestação à presença do país na União Europeia...

Em nono lugar, o surgimento da tomada de posição de Luís Montenegro. Uma atitude há muito anunciada, até logo em pleno congresso do PSD, onde não mostrou a coragem de se candidatar à liderança do partido, em que teria certamente a possibilidade de ultrapassar mesmo Pedro Santana Lopes. Pelo sim, pelo não, Luís Montenegro acabou por se determinar em criar logo um clima messiânico, ajudando à critica surgida no congresso contra Rui Rio, deixando que toda a balbúrdia continuasse a progredir em boa parte dos políticos mais conhecidos do PSD contra Rui Rio. A Montenegro nunca se lhe ouviu uma palavra, ao contrário do que se foi podendo ver com outras figuras conhecidas do partido.

E, em décimo lugar, o recurso finalíssimo ao militante Marcelo Rebelo de Sousa, hoje Presidente da República. Como o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa facilmente aquiescerá, ninguém que esteja a ler este texto e tenha escutado as suas palavras sobre os seus encontros com Rui Rio e com Luís Montenegro, hoje as aceitará. Sendo como referiu ou ao contrário, a verdade é que, como Marcelo bem sabe, em política o que parece é. Depois de quanto já se viu ou ouviu, é altíssima a probabilidade de que as coisas se tenham dado como generalizadamente estão a ser interpretadas. E aí está Miguel Morgado, ele mesmo verdadeiramente atordoado com os acontecimentos que vieram a ter lugar ao redor do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e de militantes do PSD hoje em luta. No fundo, um esforço verdadeiramente inglório do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

Esteve, pois, muitíssimo bem Rui Rio, ao tomar a posição que expôs na tarde deste sábado solarengo: compete ao Conselho Nacional do PSD decidir sobre se continua a manter a sua confiança no seu líder atual. Para se perceber o que penso sobre o desfecho desta balbúrdia criada ao PSD por passistas, conto aqui uma história que é verídica.

Os mais atentos recordarão as palavras de Pedro Passos Coelho na noite em que comunicou que deixava a liderança do PSD: ...e não creio estar errado ao acreditar que a minha continuação na liderança do PSD não seria posta em causa se acaso me determinasse a não a deixar neste momento. Terão sido estas, sensivelmente, as suas palavras a dado passo dessa sua despedida.

Acontece que familiares e amigos meus manifestaram uma enorme alegria com essa saída, o que não se deu comigo. Atónitos com estra minha posição, lá tive de tentar explicar a razão daquela minha falta de alegria: era muito melhor para o Governo atual que estivesse Passos Coelho à frente do PSD, porque ele está preso à sua estratégia completamente falhada e isso sempre fortaleceria António Costa e o seu Governo, que é o que se tem vindo a ver, mas também a base de funcionamento deste mesmo. A verdade é que o ódio da classe média à anterior Maioria-Governo-Presidente era de tal ordem, que ver Passos Coelho deixar a liderança do PSD era um sentimento inabalável. Ainda hoje é esta a situação desses tais familiares e amigos.

Por tudo isto, defendendo eu o atual Governo, mas com a condição de funcionar à luz do mecanismo que o vem suportando, é para mim muito mais importante que o Conselho Nacional do PSD derrube Rui Rio, assim abrindo as portas ao regresso do passismo, porventura por outros meios (humanos), reforçando a atual fórmula de Governo. Um dado é certo e extremamente evidente: quem tem a perder é o PSD. Até porque o PSD já vinha em queda, ou o PAF nunca se teria ficado pelos 38 %, acabando por o surgir Diabo, sim, mas a Pedro Passos Coelho. Valeu-lhe – vá lá – esta sua contratação como catedrático convidado. A verdade é que, nunca se tendo visto um caso destes em Portugal, estas balbúrdias estão na génese do próprio PPD. Uma realidade que acabou até por se projetar de um modo bastante trágico, fruto do homicídio de Francisco Sá Carneiro e dos que com ele viajavam. Isto, caro leitor, é que é o PSD. Mas o PSD de sempre.

Claro está que a Direita tem hoje uma terrível dificuldade em impor-se, porque o que realmente quer trazer aos portugueses é uma privatização tão vasta quanto possível, com a concomitante destruição do Estado Social. Seria o fim do acesso a cuidados de saúde, do ensino para quem queira estudar e a destruição da essencialíssima estrutura das reformas dos portugueses. Não se trata de uma opinião, porque nós já tivemos a oportunidade de viver o dealbar de uma tal realidade, que só não chegou ao seu objetivo porque António Costa, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónia se determinaram a ter a coragem política essencial para salvaguardar o bem-estar material de que se necessita para se ser realmente livre. E depois, porque os resultados da governação atual têm sido excelentes. Seriam tolos os portugueses se agora, depois de quanto puderam já ver – e sentir na pele...–, voltassem a dar crédito a aventuras de desfecho mais que anunciado e certo. Aventuras que se saldariam, quase com toda a certeza, num desastre social irreversível. E já agora: tenham cuidado PS, Bloco de Esquerda, PCP e Verdes, porque um desaguisado no seu seio representará o fim da liberdade que os portugueses só podem ter com certas regalias materiais...

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