Significativo

|Hélio Bernardo Lopes|
Conforme previsto, teve lugar em França, mormente em Paris, a quarta grande manifestação dos coletes amarelos contra a política de Emanuel Macron, essencialmente virada para o potenciar da base lucrativa de quanto possa girar ao redor dos negócios, simultaneamente com uma diminuição forte e veloz das condições de vida da generalidade dos franceses. Franceses que vão da classe média, passando pela classe média baixa, até aos franceses já numa zona de pobreza objetiva.

Como pude já escrever, sempre me pareceu estranha a vitória de Macron, surgido do nada, sem um programa realmente válido e justo para a generalidade dos franceses, e isto depois de se conhecer que era oriundo da banca. Só mesmo alguém muito angélico poderia acreditar que este homem iria pôr em prática uma política que ajudasse a França a reganhar-se, mas através da contribuição de franceses que não viessem a ser socialmente desqualificados, como se está a dar com esta presidência e com a sua patética governação.

Simplesmente, o que se deu foi o objetivamente expectável: baixou a contribuição da grande riqueza para o tesouro francês e baixaram também as garantias de uma vida digna para uma enorme franja dos franceses. O expectável. E por isso não espanta que a sua popularidade tenha descido a pique. No fundo, ele só se mantém porque foi eleito de um modo algo estranho, fruto de uma interpretação angelical dos franceses. E porque estes se deixaram levar pelo brandir do papão Marine. Bom, o resultado está já hoje bem à vista. Espero que os franceses não voltem a conceder-lhe uma nova oportunidade de presidir aos destinos da França.

Claro está que esta reação revoltosa dos franceses, ao contrário do que, mentirosamente, logo apontou Macron, não se suporta no sempre badalado papão da Extrema-Direita. Pode, naturalmente, ser por esta aproveitada, tal como por partidos – ainda existem em França? –, ou por políticos diversos. No fundo, até Donald Trump veio a terreiro dar o seu apoio a esta reação revoltosa dos coletes amarelos, o que até se compreende bem, depois do infeliz e anedótico comportamento de Macron na sua visita a Washington. Assentam estes acontecimentos, isso sim, no cabal afastamento entre as expectativas em que milhões de franceses, erradamente, se determinaram a acreditar e o que agora estão a ver e a sentir. Um ludíbrio. Um ludíbrio que está a mostrar aos franceses que antes da globalização e da União Europeia se sabia que o dia seguinte seria melhor, com a dolorosa realidade dos dias de hoje a mostrar que o dia de amanhã será pior. Os franceses, como tantos outros, perceberam já que o caminho político de hoje os irá conduzir a uma pobreza crescente, porventura, irreversível.

Como teria de dar-se, esta reação revoltosa terá de comportar-se como um processo de nascimento, auge e morte. Uma realidade inerente a qualquer processo desta natureza, mas mui ajudado pela ação política das autoridades ao serviço de Macron. Tal como no nosso tempo da II República, também neste mais recente sábado a polícia francesa se determinou a operar detenções preventivas às centenas, identificando milhares e impedindo mesmo uma boa parte dos franceses de chegaram a Paris.

Esta realidade trouxe-me ao pensamento certa Conversa em Família, que Marcelo Caetano proferiu na nossa RTP. A dado passo, abordando a temática dos Direitos Humanos, disse sensivelmente o seguinte: lá na velha e democrática Inglaterra, sempre que o interesse superior do Estado está em causa, isso dos Direitos Humanos é logo relegado para plano secundário. Aí está, agora mesmo e em França, a realidade há décadas apontada pelo antigo Presidente do Conselho. Para já não referir o silêncio que já se abateu completamente sobre o homicídio de Khashoggi, ou sobre o de Marielle Franco, no Brasil, ou sobre o homicídio da jornalista em Malta, etc., etc.. Temos, portanto, a democracia no seu pleno esplendor. Sobretudo, na União Europeia, esse exemplo supremo para o mundo, mormente para a vasta diversidade dos povos europeus.

No meio de tudo isto, raríssimos se determinam a abordar o rumo que a política está a levar, conduzindo, como se está a ver, a terríveis situações para as pessoas e para o próprio Planeta. Até a grande comunicação social se nos mostra quase completamente falha neste domínio. Infelizmente, perante o que se está a passar em França, na Bélgica, na Holanda e em tantos lugares do mundo, faltou a voz do Papa Francisco a apontar que a atual economia mata. Só com extrema dificuldade e por mero acaso se pode deixar de apontar esta realidade em face do que se está a passar em França. Tudo, pois, muito significativo.

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