Continuação da matéria anterior

|Hélio Bernardo Lopes|
Já só gente muito interessada – gente que trabalha hoje ao serviço da propaganda norte-americana ou que virou a casaca, passando de comunista e anti-imperialista a pró-americano e anti-russo – pode continuar a dizer-se crente nas mil e uma historietas ao redor de Donald Trump, embora, como facilmente se percebe, Donald se encontre a anos-luz de poder ser olhado como um anjo.

Em cada dia que chega assiste-se, indiscutivelmente, à chegada de novos supostos episódios ao redor de Donald Trump, ou dos hipotéticos espiões russos, ou dos apontados (e já identificados...) – criminosos envenenadores novitchoquistas, ou das meninas que tentam agora enriquecer à custa do velho Donald, que as deve ter tratado de um modo que agora consideram ter sido verdadeiramente humilhante, ou daquela cínica e poderosa classe política de Washington, completamente divorciada da vida dos norte-americanos.

A generalidade do mundo conhece estas realidades à luz da interpretação que lhes é dada pela generalidade da grande comunicação social, sobretudo, no Ocidente. Uma comunicação social que se preocupa com as crianças retidas no nosso Aeroporto Humberto Delgado, mas que fecha os olhos ao estado policial e racista hoje já presente em Israel. A tal comunicação social para quem um ataque da Força Aérea Síria só mata civis, mas que nunca se refere a uma tal situação quando os ataques são operados por Israel, Turquia, Arábia Saudita, Reino Unido, Estados Unidos ou França. A mesma comunicação social que se mostra completamente incapaz de questionar os silêncios, ou as inutilidades, de António Guterres, do Governo Português e dos representantes da União Europeia sobre quanto está hoje a passar-se no mundo. Uma estrutura que foge à explicação elementar da origem dos ditos Capacetes Brancos e ao papel desde sempre desempenhado por estes no conflito sírio. Enfim, uma muito má comunicação social, que tanto tem ajudado ao descrédito da democracia e da generalidade das instituições.

Estranhamente – ou não será nada estranho?...–, a nossa grande comunicação social leva dias e semanas a preocupar-se com Sócrates e Manuel Pinho, mas esqueceu completamente os casos BPN e GES/BES. Uma comunicação social a quem não ocorre perguntar, por exemplo, pelos casos dos nossos concidadãos Daniel Vera-Cruz Pinto ou Domingos Duarte Lima, mas por igual ao redor da imensidão de temas ontem mesmo referidos por Ana Gomes no seu tempo dominical na SIC Notícias. Então e o caso do padre que foi vice-reitor do Seminário Menor do Fundão? Em que pé está o processo? Foi condenado, ou não? E onde está a cumprir pena, se tal é a situação? Pois, a nossa grande comunicação social faz de tudo isto tábua rasa.

Por fim, foi com enorme satisfação que ontem escutei esta intervenção da nossa eurodeputada, não deixando de achar interessante o silêncio, deveras geral, da nossa classe política ao redor de quanto ali disse. Terá sido, porventura, a primeira vez que alguém com envergadura política – até sem ela – referiu esta realidade simples, ao redor das armas de Tantos: de resto, o próprio Presidente da República, se é verdade que muito tem falado sobre este tema, também o é que ninguém liga ao que diz.

Mas cá fico à espera do noticiário da noite e das novidades para amanhã sobre Donald Trump. Devem voltar a surgir, agora que CIA, FBI e restantes agências ligadas à segurança dos Estados Unidos se encontram tão unificadas contra o Presidente escolhido pelos americanos que, desbocadamente, vai dizendo o que pensam milhões. É a democracia à americana, onde, talvez pela primeira vez, um anterior presidente se dá ao luxo, pago aos milhões, a por aí andar a dar palpites sobre que o que vai sucedendo.

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