O tal silêncio...

|Hélio Bernardo Lopes|
No passado domingo foi possível, como usualmente, acompanhar os comentários da eurodeputada Ana Gomes sobre aspetos diversos da vida das sociedades do nosso tempo. Destaco, neste meu texto, os referentes ao caso dos migrantes.

Dentro da sua linha de valores, Ana Gomes mostrou-se abertamente contrária à atitude que se vem tendo perante os migrantes que demandam o espaço da União Europeia, agora muito agudizada pelo caso dos transportados pelo navio Aquarius. E de outros sobre que, sintomaticamente, se evitou falar abertamente... Mas também pela bestialidade do Governo de Donald Trump, infelizmente muito fortemente acompanhado pela generalidade do Congresso, bem como da Justiça dos Estados Unidos: se estes nem se pronunciam, aqueles falam sem nada de válido dizerem.

Diz agora Antonio Tajani, Presidente do Parlamento Europeu, que a imigração é o problema dos problemas. Disse até mais: na resolução da questão migratória joga-se o futuro da União Europeia, porque sem respostas concretas aos cidadãos aumentará o alarme social. Uma afirmação sem dúvida verdadeira, mas que comporta este enorme ridículo: continua a tratar-se um problema por uma via que se sabe, de antemão, nunca poder conduzir a bom porto. Em bom português, chama-se a isto falar para o boneco, ou para não estar calado.

Compreendo perfeitamente que Antonio Tajani não possa reconhecer que a União Europeia, de facto, só é forte com os fracos. É forte quando fala, fraca quando atua. Invariavelmente, coloca-se do lado de quem dispõe de um poder real, seja este bem ou mal utilizado. Um dos exemplos neste momento à nossa frente é o que decorre em plenos Estados Unidos, onde se volta a observar o desmembramento de famílias, à semelhança do que se deu durante a II Guerra Mundial com famílias ítalo-americanas, germano-americanas e americano-nipónicas. Terríveis calvários para os milhões de vítimas de tais métodos bestiais. Gravíssimas consequências humanas, muitas delas ainda por resolver.

Perante um tal horror humanitário, os políticos europeus, bem como os tais líderes da União Europeia, nada dizem. Caladinhos que nem ratos, os políticos da União Europeia e dos seus Estados fingem não acreditar nesta realidade, tolerando a atuação bestial do Governo de Donald Trump com um silêncio que só tem uma designação válida: calar e consentir, talvez até apoiar. O leitor já imaginou o reboliço que iria por este nosso mundo se um crime desta estirpe estivesse a ter lugar, por exemplo, na China, na Rússia, em Cuba, na Coreia do Norte, ou noutro adversário ligado a esta área política? E consegue imaginar o silêncio que ribombaria se isto tivesse lugar com Israel ou com a Arábia Saudita?

Perante tudo isto, aqui deixo esta pergunta: que é feito de João Soares, de Manuel Alegre, de António Campos e de todos os mil e um que tanto criticavam o incomensuravelmente menos grave do tempo da nossa II República? Que é feito dos nossos políticos, de um modo muito geral, perante estas violações horrorosas dos Direitos Humanos e do dever de auxílio aos que, mormente no mar, precisam de ver surgir as condições que permitam a sua salvação? Por onde andam os paladinos da luta contra os fascismos?... Sabe o leitor o que lhe digo? Goela...

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