Sim ou não?

|Hélio Bernardo Lopes|
Neste seu mais recente comentário político dominical, Luís Marques Mendes, completamente dentro do estilo a que nos habituou, lá tentou plantar mais alguns cubos no seio da engrenagem do PS e no da Geringonça. Nada que seja novo, como se conhece à saciedade.

Lá pelo meio da sua intervenção, Luís Marques Mendes referiu que Sócrates é vingativo e agora vai fazer todos os possíveis para perturbar a vida ao PS, embaraçar o PS e incomodar o Costa. Achei interessante este raciocínio, embora o mesmo seja razoavelmente incompatível com a possibilidade, que o comentador ainda colocou, de José Sócrates poder vir a cair na tentação de se candidatar ao Presidente da República em futuras eleições.

Ora, num dia destes, em escrito meu muito recente, salientei o imperativo de José Sócrates não se deixar levar, precisamente, para um tal tipo de comportamento político-social. Objetivamente, nada teria a ganhar, sendo evidente que tudo o que por aí escrevesse sempre se poderia virar contra si e contra os seus naturalíssimos interesses futuros.

Acontece que José Sócrates tem um dever a cumprir para com os portugueses, mesmo para os muitos com quem conviveu, por exemplo, no âmbito da União Europeia, no da CPLP e nas relações que Portugal manteve – e mantém – com a América Latina. Esse dever poderia ser satisfeito, por exemplo, através de três obras de sua autoria, por onde mostrasse as linhas gerais da sua vida, até ao despontar do seu interesse pela política; a sua passagem pelo exercício do poder em Portugal; e as vicissitudes que o envolveram no âmbito do caso Marquês. Para lá de se poder tratar de um prazer pessoal, constitui, isso sim, um dever, dado que ajudaria a compreender muito do que por aí tem surgido a esmo, com maior ou menor rigor.

A ideia de Luís Marques Mendes constitui um tremendo risco para a imagem de José Sócrates, até porque uma boa imensidão de portugueses, mesmo atribuindo algum grau de verdade ao que vem sendo conhecido sobre o caso Marquês, também não recusa uma costela política na ação das autoridades da Justiça. É um domínio onde as coisas nunca virão a ser a preto e branco.

Como há dias escrevi, espero bem que José Sócrates não se deixe cair na tentação ora apontada por Luís Marques Mendes, porque sempre e só teria a perder no domínio dos seus interesses legítimos e realmente exequíveis. De resto, José Sócrates tem um bom exemplo da proposta que aqui formulo com o que se passou e com o que fez Pedro Santana Lopes: deu à estampa uma obra onde expôs, com pormenor, o que foi a ação do seu Governo, tendo mais tarde desafiado Jorge Sampaio para um diálogo ao redor da sua passagem como Primeiro-Ministro. Um convite que, naturalmente, o antigo Presidente da República nunca poderia aceitar...

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN