Afinal, sempre existem

|Hélio Bernardo Lopes|
Quando há momentos tomei conhecimento de que o Tribunal de Contas deu já a essencial autorização para o reforço do dispositivo de combate a incêndios, com mais 12 aviões, exclamei para com quem tomava café comigo: afinal, os tais meios aéreos que o Governo tinha garantido à malta sempre existem. E logo completei a pergunta: o que será que agora irá dizer a Direita – PSD e CDS?

Na continuação da conversa, acabámos por rir, com um amigo a dizer que S. Pedro deverá ser do PS. A verdade é que a oposição terá de encontrar argumentos, sejam eles os que forem. E não é assim coisa difícil de conseguir, porque o Dicionário de Argumentos da Política Portuguesa é infindo. Se não viessem os meios aéreos, seria esse o grande mal. Mas se virem e não servirem, foi a argúcia política que falhou, talvez porque a um ano seco e quente devesse prever-se o surgimento de um molhado e menos quente. E se não existirem incêndios, tudo terá sido um desperdício de dinheiro. Ah, e dinheiro dos contribuintes, claro está!

Infelizmente para a nossa oposição da Direita – PSD e DS –, o Tribunal de Contas concedeu hoje o visto correspondente ao contrato de aluguer de mais uma dúzia de aeronaves. Assim no-lo garantiu o Ministério da Administração Interna. Mais uma vez, o Diabo não chegou. Um desespero terrível, é o que imagino do estado de espírito dos políticos da nossa Direita, que durante anos sonharam, acordados ou a dormir, com a chegada do Diabo que lhes não deu ouvidos. Coisa estranha, porque tal acontecimento havia sido garantido por via da alta ciência económica, então manobrada por doutores. Até catedráticos...

Estas aeronaves resultam de um concurso público internacional que foi lançado no passado mês de março. O tal tempo em que tudo iria falhar, quando já não se deviam limpar as matas nem cortar as árvores, depois de se ter exigido, precisamente, o contrário ao longo de anos. Sobretudo, depois dos trágicos incêndios do passado tempo quente que envolveu o último verão.

Consigo hoje imaginar o desgaste que este mais recente acontecimento estará a causar na alma dos criadores da Teoria do Diabo. De molde que aqui deixo um conselho aos seus membros, com ênfase muito especial para os mais abrilhantados: estudem e visionem A DANAÇÃO DE FAUSTO, de Hector Berlioz; FAUSTO, de Gounod; ou o MEFISTÓFELES, de Arrigo Boito, porque tais obras se constituem num essencialíssimo auxiliar para a compreensão do que continua a passar-se com a nossa proteção civil. Para a nossa Direita, tais obras terão um efeito ainda superior ao da Aspirina.

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