Russos à vista!

|Hélio Bernardo Lopes|
Há já muitas décadas, ainda no tempo da II República, tive a oportunidade de visionar o filme, VÊM AÍ OS RUSSOS!, a que assisti no histórico S. Jorge, em certa noite de sábado. Tratava-se de um filme satírico, mostrando a loucura norte-americana ao redor do comunismo e dos soviéticos. A história girava em torno de um submarino que se desnorteara e acabara por atingir uma praia dos Estados Unidos.

Ao darem-se conta de que se tratava de soviéticos, os residentes locais entraram completamente em parafuso, passando a palavra e alarmando tudo e todos: eram os comunistas que estavam a chegar! Claro está que, no final, tudo terminou em bem, depois das coisas terem sido convenientemente explicadas pela via diplomática. Os portugueses que viram o filme, naturalmente, deixaram o cinema com um sorriso, mas sem se darem conta de que muitos políticos são suficientemente loucos para lançarem o mundo num caos de destruição. Precisamente o que está hoje a dar-se com Donald Trump e com os Estados Unidos. Mas por igual com os fraquíssimos políticos da União Europeia, sempre prontos a mostrarem a sua coragem, mas com os Estados Unidos à frente... Verdadeiros pigmeus da política mundial.

O tempo destes dias, porém, lá conseguiu materializar a pândega historieta daquele filme, por via de certo alarme que disparou na Noruega – estranho, sem dúvida...–, e que causou o pânico dos habitantes de certa povoação norueguesa muito próxima da fronteira com a Rússia. Num ápice, e tal como naquele velho filme, a população local chamou a polícia, porque viriam aí os russos e a guerra ter-se-ia iniciado!!!

Esta loucura a que estamos hoje a assistir tem uma causa de fundo: os Estados Unidos, líderes do mundo de língua inglesa, até há uns anos senhores do mundo, já perceberam ter perdido essa posição. E, tal como pude explicar há mais de vinte anos a um falecido amigo meu – não acreditou completamente na minha previsão –, se tal viesse a dar-se, não hesitariam em recorrer à guerra, se necessário com armas nucleares. É esta a situação que se tem vindo a viver no mundo, sobretudo, desde que Donald Trump chegou ao poder nos Estados Unidos. Por ironia, este nem foi nunca o seu principal objetivo, mas ao mesmo se tem vindo a render como consequência do modo como tem vindo a ser acossado pelos grandes interesses político-militares dos Estados Unidos, mas com esta particularidade: o Partido Democrático é hoje o demonizador principal de tudo quanto Trump possa fazer. São os democratas que estão a conduzir à guerra no mundo.

Já se conseguiu compreender que o caso Skripal não passou de um embuste, destinado a comprometer Vladimir Putin. E foi esta realidade – mais uma – que levou ao mais recente caso do dito ataque das tropas de Bashar Al-Assad com armas químicas. Um ataque que, com altíssima probabilidade, nunca teve lugar, dado que mostraria uma completa bestialidade mental por parte do presidente sírio, agora que praticamente venceu a guerra que os Estados Unidos levaram ao seu país e aos seus povos. E foi com espanto que há dias escutei a perplexidade de Daniel Catalão e de José Leite Pereira por esta mesma razão: porquê fazer um tal erro, quando a vitória está praticamente conseguida sobre os tais ditos rebeldes sírios? Claro está que ninguém hoje confia em quem quer que seja, como se pôde ver com a recusa das tais comissões ditas independentes para estudar o caso da presença de produtos químicos na cidade que se diz ter sido atingida. E uma das instituições em que não se confia – nunca se confiou – é a ONU, cujo Secretário-Geral, António Guterres, nos trouxe, neste passado domingo, a patética preocupação pela situação dos civis em Douma, dizendo-se particularmente alarmado pelo alegado ataque químico denunciado por algumas ONG. Bom, caro leitor, fiquei completamente perplexo com esta saída (tão típica) de Guterres! Como é possível que se continue a alimentar deste modo mais uma impostura dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França?! Simplesmente inenarrável!!

Infelizmente, também o Papa Francisco se nos mostrou completamente fora do que realmente está em jogo neste caso: dezenas de vítimas sírias, entre as quais mulheres e crianças, pessoas fustigadas pelos efeitos das substâncias químicas contidas nas bombas. Mas quem é que diz terem existido bombas? Os designados capacetes brancos, gente realmente ao serviço dos Estados Unidos e controlados pela CIA? Será que o Papa Francisco já não recorda as mentirosas armas de destruição maciça que estariam na possa de Saddam Hussein, mas que nunca existiram? E a destituição de Dilma no Brasil? E a invasão da Polónia pelos nazis? E a estratégia de tensão da OTAN, em pleno coração da Europa? E as vítimas de provas forjadas pela polícia britânica, só para se contentar a opinião pública? O Papa Francisco desconhece tudo isto?

Pode já hoje o leitor observar às claras a verdade daquela minha previsão, exposta em conversa com o meu falecido amigo. A loucura norte-americana, cabalmente aceite pela fraqueza política europeia, está a levar o mundo para uma situação de confronto militar que muitos nunca imaginaram poder ter lugar. O problema, hoje, é este: aonde se chegará se o conflito militar, suportado nestas mentiras ocidentais, vier a ter lugar? Porque se um ataque norte-americano à Síria tiver lugar e a Rússia não ripostar, talvez seja então lógico reconhecer que os Estados Unidos são os senhores do mundo. Mas talvez as coisas acabem por não descambar, a fazer fé nos tergiversantes tweets de Donald Trump, mas também nas palavras de James Mattis – Cão Raivoso. Vamos esperar, porque talvez o Ocidente venha a descobrir que tal ataque não foi com armas químicas...

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN