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|Hélio Bernardo Lopes| |
Para se perceber o estado a que se chegou neste domínio vale a pena deitar aqui mão de certo aspeto que se desenvolveu durante a Guerra da Coreia. Por decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, só possível por se ter a União Soviética ausentado da respetiva reunião, foi aprovada uma intervenção de tropas ao serviço daquela organização, através de militares dos Estados Unidos.
A guerra não andou nem desandou, MacArthur foi simplesmente demitido por Truman – haviam líderes, valores e bom senso político...–, e quem comandou as tropas dos Estados Unidos ao serviço da ONU não foi capaz de criar um espírito de corpo e uma vontade de combater e de vencer. Perante esta realidade, a dado passo, o poder político norte-americano determinou-se a colocar no comando daquelas tropas um general já com provas dadas e muito fibroso: Mathew Ridgway. Num ápice, tudo mudou, mormente no desentorpecimento dos militares ali em funções e no respetivo brio.
No meio de tudo isto, como sempre seria de esperar, ao general demitido não passou pela cabeça pôr em causa a atitude dos militares que ali combatiam ao serviço das Nações Unidas. Passado o comando a Ridgway, recolheu às casernas ou a uma outra vida. O que não fez foi criticar os seus militares, ingrediente essencial para poder vencer. Nem Ridgway se determinou a pôr em causa o seu antecessor. O que hoje se conhece da realidade ali passada nesse tempo foi-nos dado a conhecer pelos historiadores militares, naturalmente acautelado o interesse da instituição militar norte-americana e a imagem dos próprios Estados Unidos.
Infelizmente, contrário tem sido o caminho percorrido, mormente depois do jogo do Sporting com o Atlético de Madrid, por sportinguistas com elevada responsabilidade. Sendo certo que um general não faz um exército, muito menos o poderá pôr em causa, fruto de mostrar a todos os pontos de vista menos bons que possa ter sobre os seus soldados do futebol. A verdade é que sem estes é que a Guerra do Campeonato não poderá ser ganha. Eles valem incomensuravelmente mais que o comandante operacional ou que o general comandante.
A tudo isto há que juntar o efeito que tudo quanto se vem dando com o Sporting, mormente depois da derrota em Madrid, está a produzir na imagem de um clube que é parte muito cimeira do desporto português. Seja no domínio do futebol ou de mil e uma outras modalidades. E também é essencial não esquecer um certo tipo de traço social que é parte da matriz sportinguista, porque os atuais episódios deverão ser, porventura, o mínimo até hoje atingido, no plano da imagem, que o Sporting tem vindo a percorrer desde há algum tempo.
Por fim, esta minha conclusão: precisamente por via da matriz social que historicamente caraterizou o Sporting Clube de Portugal, o que entendo neste caso é a materialização de uma estimativa da decadência das nossas ditas elites. Uma decadência que se nos dá aqui a ver no desporto, mas que está bem presente por partes vastas e importantes do tecido social português. É um fenómeno que se vem acentuando desde há umas duas décadas, agora fortemente acelerado pela perda de moral, de ética e de saber estar, mas por igual graças à maldição das redes sociais, autêntico veneno social. Numa frase simples: o Sporting não merece uma delapidação deste calibre. O que justifica esta pergunta: estarão os sócios do Sporting Clube de Portugal conscientes do que está a passar-se?