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|Hélio Bernardo Lopes| |
O próprio Presidente Marcelo Rebelo de Sousa chegou mesmo a ampliá-lo, logo no dia da sua tomada de posse como Presidente da República, para a área Social: Estado de Direito Democrático e Social. Um gesto de boa vontade. A verdade é que o mundo não deixa de girar, mesmo com tudo o que conhecemos já muito mudado, mas com certas constantes que, algo inacreditavelmente, se mantêm. Uma dessas constantes é o perigo russo, agora que já não existe o perigo comunista, como então convinha enunciar pelos políticos do tempo e que também a grande comunicação social debitava de modo obediente e acéfalo.
Numa destas semanas recentes, Donald Trump realizou o seu primeiro Discurso Sobre o Estado da União. Neste expôs, como fim essencial, o desenvolvimento de novas armas nucleares, mas de teatro. Não tergiversou na defesa da sua determinação de implementar uma nova corrida armamentista, ao mesmo tempo que Francisco se vai batendo, sem resultados dignos de registo, em defesa do contrário. Bom, a nossa grande comunicação social limitou-se a noticiar a nova corrida armamentista norte-americana, de pronto suportada pelos mil e um especialistas que sempre diriam que 2 e 2 são 5 se tal conviesse ao dito Ocidente.
Umas semanas depois, eis que Vladimir Putin apresentou o novo armamento russo, com especial ênfase para o míssil balístico Sarmat, que diz ter um alcance praticamente ilimitado, tornando inútil o escudo antimíssil dos Estados Unidos: ninguém no mundo tem algo igual, por agora, o que é fantástico! Bom, leitor, soaram as campainhas de todos e alguns mais. Um horror! Um perigo!! Inaceitável!!!
Num ápice, a OTAN apontou as palavras de Vladimir Putin e os novos armamentos russos como algo inaceitável e contraproducente. E então disseram os seus dirigentes o que nunca referiram sobre as palavras de Donald Trump no tal discurso recente: as declarações russas, que ameaçam atacar os nossos aliados, são inaceitáveis e contraproducentes, como já deixámos claro, até porque o sistema de defesa antimíssil da aliança não foi projetado nem dirigido para ser contra a Rússia!!! Onde será que esta senhora estudou?
A verdade é que existem a bota e a perdigota, sendo que as duas nem sempre batem certo. Assim, Joseph Votel, do Comando Central dos Estados Unidos, veio agora referir que a Rússia impede a supremacia aérea americana no Médio Oriente, consequência dos seus sistemas de mísseis. Ou seja, até há pouco existia essa supremacia aérea dos Estados Unidos, facto com que ninguém se preocupava no Ocidente. Além do mais, aquele general expôs no Congresso que a Rússia, o Irão e a China, constituem a principal ameaça para os Estados Unidos. Então e a tão publicitada Coreia do Norte?!
Simplesmente, os Estados Unidos propõem-se ir mais longe, o que se fica logo a saber pela voz do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, David Goldfein: a guerra no espaço pode começar nos próximos anos, e acho que vamos efetuar ataques no espaço daqui a algum tempo. Isto, caro leitor, estando em vigor um tratado internacional que proíbe tal tipo de iniciativas de guerra. Como seria de esperar, da nossa grande comunicação social o que sobreveio foi o silêncio.
Ao mesmo tempo, o combate às ciberameaças e as ditas operações híbridas – infiltração de unidades paramilitares ou mercenárias – faz já hoje parte do treino convencional das brigadas dos Estados Unidos presentes na Europa ao serviço da OTAN. Uma realidade já publicamente assumida, mas de que nada diz a nossa grande comunicação social. Os americanos até já consideram este tipo intervenções como guerra convencional. No meio de tudo isto, a Síria. Com a Paz quase omnipresente em todo o mundo, quase já sem fome nem miséria, a Síria é o grande problema do tempo destes dias. Não fora a Síria, e Guterres seria feito santo por Francisco. Simplesmente, lá estão Vladimir Putin e Bashar Al-Assad, recusando-se a seguir as excelentes ideias e propostas de um estadista do calibre de Donald Trump. Aqui sim, uma verdadeira heresia político-diplomático-militar.
A prova desta mesma realidade mostrou-nos Catarina Furtado: não podemos ignorar. Simplesmente sublime! Sim, sublime, mas uma fonte de trabalhos, porque ando agora a procurar as suas tomadas de posição sobre a Guerra do Iraque e sobre o Iémen, ou sobre a violação, por décadas, de Israel sobre as decisões, de todo o tipo, das Nações Unidas.
Com um pouco de atenção, e fugindo a modas neste domínio, Catarina facilmente reconheceria que o que se passa na Síria não deriva de um capricho do Governo Sírio ou de Putin. A verdade é que existe mesmo a Al Nusra, estrutura ligada à Al Qaeda, e desde sempre apoiada, direta ou indiretamente, pelos Estados Unidos. De resto, a Rússia e a Síria já anunciaram a criação de corredores humanitários em Ghouta Oriental, mas os tais da Al Nusra recusam-se a deixar sair os sírios que utilizam como escudos humanos. A nossa grande comunicação social, no entretanto, finge não recordar as armas de destruição maciça de Saddam Hussein, mas que nunca haviam existido. Ou os jornalistas internacionais atingidos pelo militares no hotel. Ou...o Vietname.
Perante o fracasso da ação dos tais da Al Nusra – e os fabulosos capacetes brancos?... –, as Nações Unidas, sob dominação norte-americana – nasceu com elas...–, descobriram agora que a Coreia do Norte é que vem fornecendo armas, até químicas, aos militares sírios. Não aos outros, claro está, só aos sírios... E, perante tal historieta, o Governo Chinês declarou esperar que as partes implicadas possam fornecer provas sólidas, em vez de adotar ações a partir do nada. Precisamente o que faz a nossa grande comunicação social, com um alucinante ritmo diário...
Depois, a União Europeia. Haverá de reconhecer-se que se impõe dizer um mínimo, mesmo que não sirva para nada, nem ninguém preste atenção a tais considerações. E então instou a Rússia, a Turquia e o Irão a intervirem junto do regime sírio e dos rebeldes – a Al Nusra, ligada à Al Qaeda – para a suspensão dos combates em Ghouta Oriental, permitindo distribuir ajuda humanitária e retirar pessoas. Objetivamente, trata-se de falar por dever de ofício.
Seria interessante que jornalistas das televisões ocidentais, mormente em larga escala, se determinassem a acompanhar um comboio de camiões das Nações Unidas ao longo do tal caminho aberto para o auxílio humanitário, de molde a poderem deixar boa ajuda e a trazerem quem pretendesse sair da cidade agora sitiada e em guerra. Claro está que ninguém se atreve a tal iniciativa, até porque se sabe que, quase com toda a certeza, não regressaria com vida. Ou seja, tem razão o general russo Viktor Pankov, ao exprimir o ponto de vista de que atualmente, os elementos da Al Nusra estão a proceder a bombardeamentos intensos e nenhum civil conseguirá sair da cidade. O problema é que a nossa grande comunicação social não se apercebeu ainda desta realidade.
Mas se a União Europeia teria sempre de dizer algo, mesmo que ninguém ligue a tal, também Portugal o teria de fazer. De molde que lá nos surgiu o Governo, manifestando-se preocupado e até indignado pelas notícias de frequentes violações do cessar-fogo na Síria, reiterando o apelo de Portugal ao cumprimento do decidido sábado à noite pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Que determinação! Que força!! E que clareza!!! De molde que me questiono: será que o Governo acompanhou a tão sincera e lúcida entrevista da académica Maria João Tomás, em certo noticiário das sete da tarde na SIC Notícias?
Por fim, e ainda ao redor da tragédia criada na Síria pelos Estados Unidos e seus capangas no Médio Oriente, o caso de que não falam as nossas lutadoras feministas: há mulheres na Síria a serem exploradas sexualmente por homens encarregues de lhes entregar ajuda em nome das Nações Unidas e de outras associações de ajuda internacionais, acontecimentos narrados à BBC por alguns funcionários que operam essa ajuda. Da nossa grande comunicação social, como do Governo, ou da oposição, mesmo dos restantes órgãos de soberania, ou da União Europeia, bom, sobrevém o silêncio.
Mas mudemos de tema. No meio do tal mundo de Paz, com a notável exceção da Síria, aí nos surgiu uma revista do Vaticano – a Women Church World, revista mensal feminina do jornal do Vaticano Osservatore Romano –, denunciando como as freiras são frequentemente tratadas como servas contratadas pelos cardeais e pelos bispos, para quem cozinham e limpam por quase nenhum salário. Este, caro leitor, é o exemplo dado ao mundo por diversos príncipes da Igreja Católica Romana. A tal Igreja do Papa Francisco, certamente apontado por alguns destes príncipes como se situando já à beira da heresia. Dentro da igreja, as mulheres são exploradas, afirmou numa entrevista recente a responsável pela revista. Um verdadeiro mimo!
Infelizmente, não é o único, pois nos chegaram, há dois ou três dias, novas revelações, feitas na primeira pessoa, de violações pedófilas operadas por padres, depois protegidos pelos seus superiores hierárquicos: bispos ou cardeais. Tal como pude já explicar, esta realidade é estrutural à própria Igreja Católica Romana, sendo quase impossível extirpá-la sem que os Estados e a Comunidade Internacional se imponham. Um tema que bem poderia ser tratado por António Guterres, agora que, sendo católico, é também Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas. Mas irá ele por este caminho? Claro que não!!
Tendo começado este texto com os Estados Unidos e a sua nova corrida armamentista, aqui estão eles de novo: mais um tiroteio na zona das residências universitárias da Central Michigan University. Dois mortos apenas. Simplesmente, trata-se de um aliado, pelo que Portugal acredita que as autoridades norte-americanas estarão atentas ao que está a passar-se. Aliás foi sempre assim desde a fundação dos Estados Unidos: a máxima atenção a tudo o que possa pôr em risco os norte-americanos...
Entre nós e no meio de um silêncio quase absoluto, calhou agora a vez da Câmara Municipal do Porto criar a sua taxa turística, mas em dobro face à de Lisboa. A gritaria que mil e um criaram ao redor do caso da taxa lisboeta, e o silêncio de agora com o Porto...
Com algum espanto, eis que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa nos surgiu a opinar sobre o desenrolar da investigação de um caso judicial concreto: deve ir-se mais longe e a fundo nos casos que envolveram as Forças Armadas nos últimos tempos. Para quem sempre recusou comentar processos concretos que decorrem no seio do Sistema de Justiça, este entrecruzar dos poderes é verdadeira novidade política. Imagine António Costa, ou Eduardo Ferro Rodrigues, a dizer o que quer que fosse sobre um outro processo a correr no seio daquele sistema...
Mesmo para finalizar, a recente entrevista do conselheiro Fernando Pinto Monteiro ao Público. Como se sabe, Fernando Pinto Monteiro foi o antecessor de Joana Marques Vidal como Procurador-Geral da República. E teve até iniciativas de grande impacto, como a que se prendeu com o bullying nas escolas, ou o caso da Noite do Porto, ao nomear Helena Fazenda para o tratar, o que fez com celeridade e com resultados muito excecionais. E muitos outros domínios, aliás, por si referidos nesta entrevista.
Porém, no lugar de estar para aqui a analisar a entrevista, o que penso ser o melhor para o leitor é recomendar-lhe que a leia, apenas salientando agora uma frase muito interessante, referindo-se ao Sindicato dos Magistrados do Ministério Público: agora, o sindicato, que tem um acesso à imprensa fabuloso – e já tinha –, pode dizer o que quiser. Siga o meu conselho, caro leitor: leia a entrevista e discuta-a, calmamente, com gente conhecedora das aplicações do Direito.