Mais coragem

|Hélio Bernardo Lopes|
A sociedade portuguesa não é muito dada a produzir gente corajosa, mormente no domínio psicológico, onde é frequente o espírito e a cultura calculista, que acaba por levar legiões a olharem para o lugar que parece destinado a vencer, logo esquecendo as anteriores posições, determinadas pelo mesmo tipo de avaliação e de comportamento cultural.

Esta realidade levou a que tivesse ficado satisfeito com a mais recente voz portuguesa ao redor das eleições russas para o Presidente da República e que foi a de Miguel Sousa Tavares, ontem surgida no seu comentário semanal na SIC. O inverso, precisamente, da posição ali assumida por Clara de Sousa, que, algo admirada, lá foi salientando os argumentos da cartilha que vem sendo debitada pela líder do Governo Britânico e pelo seu engraçadíssimo Ministro dos Negócios Estrangeiros.

A grande verdade – e quão incómoda ela é...–, é que Vladimir Putin ganhou a toda a linha. Até no domínio da abstenção, malgrado ter apenas conseguido 67 % de votantes, ao invés dos 70 % desejados. Como certamente o leitor não deixará de concordar, trata-se de uma estrondosíssima derrota de Putin – na boca dos pigmeus políticos do Ocidente, claro está... É caso para que se recorde Jô Soares: eu quér’ápláudirr! Em primeiro lugar, Miguel Sousa Tavares mostrou coragem moral e psicológica ao reconhecer que num país com a dimensão da Rússia não é possível esperar-se uma completa ausência de batotas.

Em segundo lugar, também Miguel se mostrou corajoso ao mostrar-se convicto de que batota eleitoral houve, mas em muito maior grau nas eleições norte-americanas, que levaram Donald Trump ao poder. Aliás, se há dado que estas eleições americanas mostraram é a cabalíssima mentira funcional das eleições nos Estados Unidos.

E, em terceiro lugar, aquele raciocínio elementar, mas que a enorme maioria dos nossos jornalistas, analistas e comentadores se recusam realizar: mandar envenenar Seguei Skripal, na véspera das eleições presidenciais e com o mundial de futebol à vista, porquê?! Não custa perceber que se alguém não tinha interesse neste caso de Skripal, esse alguém era Putin. E também que quem o poderia ter – ou julgar ter – era o Ocidente, mormente os primários políticos norte-americanos e os tão cínicos e previsíveis britânicos. Para mais com uma Primeira-Ministra sem real qualidade e menos ainda credibilidade.

Esta presença de ontem de Miguel Sousa Tavares no noticiário da SIC mostrou que a realidade que vem sendo criada ao redor da Rússia de Vladimir Putin só deriva dos interesses materiais do Ocidente, de que nunca poderão aceitar que uma riqueza imensa como a da Rússia possa ser defendida, patrioticamente, pelo respetivo Presidente da República. Um Yeltsin, um Navalny, ou alguém do quilate destes dois, bom, até seria conveniente, mas a verdade é que o Ocidente que assim procede com a Rússia é o mesmo que – um método velhinho – fez agora o que se vê com os curdos. E quem se não recorda dos nossos Açores, mal findou a Segunda Guerra Mundial? Ou da fantástica e continuada fraude das eleições italianas desde o fim deste conflito?

Miguel Sousa Tavares mostrou a coragem moral e psicológica que se pôde também ver ao académico Farias Ferreira, na curta entrevista de anteontem na RTP 3. Um ingrediente que começa a ser raro na nossa grande comunicação social, acefalamente alinhada, por via da falta de valores do tempo que passa, com os interesses que se sabe serem dominantes no Ocidente. Os que evitam chatices no ganha-pão de cada dia. Por estranho que possa parecer, esta atitude omnipresente na nossa grande comunicação social tem a mesma origem da continuada violação do segredo de justiça em Portugal: faltam valores e falta a coragem e o adequado estigma da consciência no plano cultural nacional e na nossa grande comunicação social.

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