![]() |
|Hélio Bernardo Lopes| |
Como se compreende, trata-se de uma afirmação engraçadíssima e que deixará marcas diversas junto de concidadãos vários, dado poder ser explorada à luz de pontos distintos de vista.
Acontece que o Serviço Nacional de Saúde, de um modo que me parece evidente, não é completamente compaginável com a existência de uma rede vasta de hospitais privados, naturalmente ligados a grandes grupos de capitais. Como facilmente se percebe, numa tal situação o Serviço Nacional de Saúde correrá sempre o risco de um colapso funcional e existencial.
A rede de hospitais privados, em mui boa medida, acaba sempre por tornar-se incontrolável ao nível da respetiva gestão de recursos. Ao mesmo tempo, os seus proprietários sempre poderão oferecer condições de trabalho e de rendimento aos profissionais de saúde muito acima dos oferecidos pelo Serviço Nacional de Saúde. Uma realidade que gera um fluxo de profissionais de qualidade do setor público para o privado.
A grande comunicação social, naturalmente ligada a grandes interesses, acaba por potenciar a ideia de que os hospitais públicos estão em queda, com os privados em ascensão. Se diariamente nos surgem nas televisões notícias catastrofistas sobre os hospitais do Serviço Nacional de Saúde, já sobre a rede de hospitais privados a regra é o silêncio. Ou quase. De resto, as televisões encarregam-se de ir convidando supostos especialistas que num ápice, sem nunca serem categóricos, acentuam a imagem do diferencial atrás apontado.
Não é difícil perceber que toda a política posta em prática, sobretudo pelo PS do tempo de Mário Soares, acabou por escancarar as portas do setor da saúde aos interesses privados, assim como se entre este e o setor público pudesse existir uma salutar competitividade! Bom, o resultado está à vista: um ou dois milhões de portugueses com boas possibilidades conseguem aceder aos hospitais privados, agora servidos pelos profissionais oriundos do domínio público e das academias. Invariavelmente, tais hospitais situam-se nas grandes cidades, sobretudo Lisboa e Porto, ausentes, porém, do restante território nacional.
Ora, este panorama não pode ser alterado, possuindo mesmo um dinamismo, embora no mau sentido. Para se poder ter um paralelo, basta pensar, por exemplo, no que atingiria as nossas Forças Armadas se, por loucura política, o poder se determinasse a autorizar tropas especiais oriundas da iniciativa privada. Suportada esta em dinheiros com origem no setor financeiro, facilmente os melhores seguiriam para as forças especiais privadas. Restariam, portanto, as nossas Forças Armadas, mas já sem a capacidade operacional que será sempre de esperar de si.
Infelizmente, Adalberto Campos Fernandes corre o risco, que cresce diariamente, de ficar para a História como o coveiro do Serviço Nacional de Saúde Português. A verdade é que criar uma unidade de missão chefiada por Maria de Belém para estudar o futuro do dito Sistema Nacional de Saúde é a pior carta de recomendação que se poderia atribuir ao atual Ministro da Saúde. Mas vamos lá esperar pela próxima semana – era em março...–, a fim de percebermos o que se poderá passar, ou não, com os tais setecentos médicos especialistas. Ou bem me engano, ou estamos a caminhar para o fim do Serviço Nacional de Saúde e do Estado Social...