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O que é a Sociologia? |
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É neste âmbito que, em termos gerais, encontramos a especificidade da Sociologia enquanto área do saber: a sua vocação é estudar as relações sociais que se estabelecem entre as pessoas e que constroem a vida social, ao nível mais quotidiano dos encontros sociais, ao nível mais institucional da vida das organizações, ou ao nível mais estrutural das relações transnacionais e dos problemas globais, para dar alguns exemplos. Interessa à Sociologia, portanto, descobrir como essas redes de relações sociais mais localizadas ou mais amplas são construídas, explicar como são organizadas, compreender que influências têm na vida de cada um, e que impactes têm na vida de todos, nomeadamente em termos de manutenção ou de transformação social.
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Acontece que esses campos de possibilidades não são igualitários na sua «estrutura», ou seja, nas oportunidades que dão e nos constrangimentos que colocam às pessoas. As relações sociais tendem a ser caracterizadas não apenas por diferenças marcantes, mas também por desigualdades profundas. Há quem nasça em condições sociais e económicas mais favorecidas ou mais vulneráveis. Há quem adquira estatutos sociais conferidores de mais poder para si próprio e sobre os outros. Estas condições constrangem, desde logo, o espaço de possibilidades e escolhas de cada indivíduo ou grupo. Daí a sociologia, ao saber que isso acontece, ao estudar como e por que acontece, também participar frequentemente com o conhecimento que produz na fundamentação de políticas que favoreçam a igualdade de oportunidades entre as pessoas.
Considerando a relação de intimidade de toda a gente com o objeto próprio da Sociologia, a vida social, essa relação tem tanto de fascinante quando de perigosa no exercício das várias práticas profissionais dos sociólogos, seja na universidade, seja em muitos outros campos onde estes praticam o(s) saber(s) sociológico(s). Enquanto seres sociais, todos construímos juízos de valor e categorias de interpretação da vida em sociedade, as suas instituições e dinâmicas sociais. No entanto, nem todos estamos habilitados a fazer sociologia.
O que difere a Sociologia da mera opinião - mesmo que informada e sofisticada - e lhe confere o estatuto de Ciência, é o facto do conhecimento que produz ser sempre resultado de um processo de investigação empiricamente fundamentado. Esse processo, por sua, vez, implica a aplicação sistemática e controlada de um conjunto de protocolos metodológicos, técnicos e deontológicos, que orientam a produção, o tratamento e a análise de dados empíricos de natureza diversa, quantitativa ou qualitativa. É neste sentido que, muitos de vocês, caros e caras leitores e leitoras, já terão sido interpelados por sociólogos ou aprendizes de sociologia para preencher um inquérito por questionário, para responder a uma entrevista ou participar de um grupo de discussão, ou para serem observados na vossa vida quotidiana, ou acompanhados em alguma atividade específica.
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Tal só se consegue fazer com uma sólida formação de base, em termos teóricos, metodológicos e éticos, a qual deveria começar tão cedo quanto possível. Apesar de recente, a Sociologia é, hoje em dia, um campo disciplinar consolidado em Portugal, com uma oferta formativa de qualidade internacionalmente reconhecida no ensino superior. Tem sido, no entanto, uma disciplina menosprezada na oferta formativa ao nível do ensino secundário. Resume-se hoje a uma disciplina de opção no 12º ano de escolaridade, onde os sociólogos, anacronicamente, continuam a não ser reconhecidos pelas instâncias oficiais como detentores da habilitação própria para fornecê-la aos estudantes, facilmente ultrapassados nos concursos de colocação de professores por colegas de outas áreas.
Ora, numa era em que tende a impor-se o «paradigma da pós-verdade», a revalorização escolar da Sociologia numa etapa precoce da trajetória escolar contribuiria, com certeza, para uma formação mais crítica, reflexiva, inclusiva e cidadã dos jovens estudantes, quando ancorada em conhecimento cientificamente fundamentado sobre os desafios que lhes vão ser colocados com maior intensidade pelas sociedades contemporâneas nos seus percursos de vida.
Vitor Sérgio Ferreira
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva