Faltam ecos

|Hélio Bernardo Lopes|
A generalidade dos portugueses recebeu a formação do atual Governo do Primeiro-Ministro António Costa com um misto de alívio, de apreensão e de satisfação. Alívio por ver chegado o fim da dolorosa experiência da anterior Maioria-Governo-Presidente da Direita.

Apreensão pelo motivo de assistir a acordos escritos entre o PS e os partidos da Esquerda – Bloco de Esquerda, PCP e Verdes –, algo desde sempre impedido por Mário Soares e pelos que o sucederam à frente do PS. E satisfação por via das garantias dadas pelo PS de António Costa, no sentido de se pôr um fim no princípio massacrante que havia sido praticado e se sabe que iria continuar. Seria, como sempre se percebeu, o fim do Estado Social em Portugal.

Em contrapartida, no caso da autarquia lisboeta apenas sobreveio o sentimento de satisfação, para o que bastou ter acompanhado a superior condução da mesma por António Costa, para mais sucedido por Fernando Medina, com créditos que se vêm acumulando e consolidando. A verdade, porém, é que há ecos que não nos vêm chegando, assim suscitando alguma dúvida sobre os cidadãos. É sobre a ausência de dois desses ecos que aqui alinhavo algumas linhas.

Em primeiro lugar, os painéis que a CARRIS mantém junto das paragens de autocarros em Lisboa. A maior parte destes continua a funcionar, mas alguns têm vindo a deixar de funcionar, sem que voltem a ser arranjados. É o que se passa, entre outros, com o painel situado na Estrada de Benfica, em Lisboa, junto do Largo do Conde de Bonfim. Passam por esta paragem as carreiras 16, 46, 54, 58 e 68, sendo que o painel dos tempos de espera se encontra avariado há perto de quatro anos. Um caso a que tem agora de juntar-se o da paragem junto do Restaurante Califa, na sequência das excelentes obras que a Junta de Freguesia de S. Domingos de Benfica realizou. Ali está, descaído e sem funcionar, já desde antes das recentes eleições de outubro para as autarquias.

Quem chega a estas paragens de autocarro, dia após dia, não deixa de olhar para os referidos painéis, sobrevindo uma sensação de inoperância e de abandono. Neste domínio, claro está, porque a não privatização da CARRIS continua hoje a permitir que a generalidade dos lisboetas possam movimentar-se com extrema facilidade e com um preço bastante inferior ao anterior, com a evidente tendência para continuar a aumentar se tivesse havido privatização. Olhemos o caso dos CTT...

E, em segundo lugar, o caso da devolução do montante da taxa de proteção civil, medida administrativa imposta pelo Tribunal Constitucional. Acontece, com alguma admiração, que ninguém conhecido desta vasta freguesia de S. Domingos de Benfica confirmou ter já referido o montante que lhe possa ser devido, apesar de ter já sido noticiado, há bem mais que uma semana, que a referida devolução se havia iniciado. Também aqui não chegam aos munícipes os expectáveis ecos e de quem quer que seja. Não se conhece alma que tenha confirmado a receção do vale postal que se noticiou e garantiu.

Estes dois casos, naturalmente distintos e originados em tempos políticos distintos, acabam por atingir a imagem do poder autárquico lisboeta, embora só existam generalizadas razões de satisfação. E logo a começar, precisamente, pela Junta de Freguesia de S. Domingos de Benfica, que vem realizando um trabalho de enorme qualidade e impacto social. Infelizmente, a natureza humana determina que em política o que parece é. O que mostra que se impõe, e bem para lá desta realidade empírica, inverter o rumo do primeiro caso deste meu texto e estar atento, esclarecendo o ponto da situação, ao que se possa estar a passar com o segundo caso. Enfim, vamos continuar a esperar os ecos que não chegaram ainda.

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