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Avatar digital: uma promessa de vida eterna? |
Fazendo a ponte para um contexto histórico-filosófico específico seria interessante relembrar o legado aristotélico, na medida em que nos levaria a assumir que estamos a conduzir para/ (n)o limite da própria desontologização de categorias classificativas, como é o caso da ‘substância’, da ‘relação’, do ‘tempo’, ou até, da própria ‘paixão’ (por exemplo).
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1 - Martha (Haley Atwell) perde o marido – Ash (Domhnall Gleeson);
2 - Uma amiga de Martha sugere que esta experimente um chatterbot;
3 - Martha na tentativa de lidar com o seu sofrimento, decide experimentar a app., fazendo upload de toda a informação digital que guardava de Ash;
4 – Rapidamente, a empresa de IA oferece a possibilidade a Martha de receber um upgrade do software através de uma versão física do seu falecido marido em IA.
Ocorre-me, assim, a oportunidade para falar sobre uma app. não ficcional – a Replika : mais uma tecnologia emergente que diz ter a capacidade de criar uma personalidade baseada na sua memória artificial. Trata-se de um chatterbot: um programa de computador que simula a conversação de um ser humano. E sim, o/a conceito/noção de personalidade e memória artificial mereciam que lhes dedicássemos um outro tipo de reflexão (cuidada). Contudo, interessa aqui pensar numa das possíveis consequências proveniente desta app. que, após a recolha de informação, tem como finalidade assumir por si uma conversação com os/as seus/as amigos/as.
O Replika ainda que peça para se ligar às suas redes sociais, não solicita o upload de emails e mensagens privadas como acontece no episódio “Be Right Back”, mas sugere-nos a naturalização da ideia de que retomar uma ligação programada computacionalmente com o avatar digital de uma pessoa que faleceu é o próximo passo. Convém perguntar quanto antes: o que é isto de um monumento digital - por si - só fomentar a ideia de que se está a falar com uma pessoa falecida? Será assim tão atrativa a ideia de interagir com a versão digital de uma pessoa morta?
Falar de um avatar digital imortal representado pela app. da Eterni.me - aplica a noção de in-finito ao contexto digital, anunciado a preservação de memórias e ideias ao bom estilo de um argumento prometaico e ignorando toda uma tradição secular em torno da perceção popular sobre o tema da morte e da dor, no fundo, do tempo. Acredito que o mais importante esteja no ato de informar que tudo se passa em torno de coletar a sua pegada digital através de redes como o Facebook, Twitter, LinkedIn, Instagram e criar - através de algoritmos de inteligência artificial - um avatar que traduz uma personalidade virtual.
O reconhecimento da necessidade desta informação é essencial para acompanhar o desenvolvimento da própria tecnologia, pois quando se fala de sofrimento na era digital não é suposto ignorar que este dito sofrimento ainda não é, por si só, digital.
Lia Raquel Neves
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva