Diogo Verissímo |
Pode descrever de forma sucinta (para nós, leigos) o que faz profissionalmente?
Trabalho na área da conservação da natureza, mas ao contrário do que muitos possam pensar não trabalho com animais ou plantas; trabalho com pessoas. Isto porque todas as grandes ameaças à natureza têm a sua origem no comportamento humano, nas centenas de escolhas aparentemente insignificantes que cada um de nós faz todos os dias.
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Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?
O meu trabalho permite visitar não só algumas das paisagens naturais mais espectaculares do mundo, como também contactar com uma enorme diversidade de culturas. Desde o Brasil ao Nepal e da Indonésia a Moçambique, já trabalhei em largas dezenas de países, com culturas e pessoas muito diferentes de mim. Não há dúvida que esta oportunidade de alargar a minha perspectiva sobre como se vive noutros locais do mundo enriqueceu a minha personalidade e minha maneira de ver o mundo.
Esta é um tipo de trabalho onde invariavelmente se juntam muitas histórias para contar, e eu tenho trabalhado para que estas histórias sejam contadas fora dos círculos da ciência. Primeiro através do livro Biografias: vidas de quem estuda a vida, uma compilação das melhores histórias de campo de 18 biólogos portugueses, agora disponível gratuitamente online . O meu último projecto neste campo é o projecto Lost & Found (em português, Perdidos e Achados), que conta a histórias dos animais e plantas que foram redescobertos depois de já terem sido considerados extintos. Esta é uma plataforma onde capturo algumas das histórias mais inspiradoras do campo da conservação da natureza, um tema onde o mais comum é ouvirmos falar da destruição do mundo natural.
Por que motivos decidiu fazer períodos de investigação no estrangeiro e o que encontrou de inesperado nessa realidade académica?
Ir para fora de Portugal foi para mim uma necessidade, uma vez que não podia em Portugal seguir o rumo académico que pretendia. No nosso país, a área da conservação da natureza é vista como algo apenas ligado ao estudo de animais e plantas, não havendo uma grande tradição de olhar para o comportamento humano como parte do problema. Tive por isso de me mudar para o Reino Unido em 2006, e desde esse tempo não voltei a viver em Portugal, contado desde então também com passagens pelos Estados Unidos e Costa Rica.
O mais inesperado que encontrei tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos foi uma maior proximidade entre os investigadores, os professores e os alunos, que veio contrariar a forte hierarquia que tinha sentido nas universidades portuguesas. Isto serviu de rampa de lançamento para a minha carreira, porque me deu confiança para interagir com cientistas de uma fase mais avançada da carreira e assim perceber que eu também era capaz de fazer ciência.
Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?
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Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?
Acho que é uma plataforma essencial no contexto da internacionalização do cientista português. No seguimento do grande trabalho que é feito há já algum tempo por associações de investigadores ao nível nacional (como a PARSUK no Reino Unido, ou a PAPS nos Estados Unidos), impunha-se já uma plataforma global que pudesse facilitar o contacto entre todos os portugueses que fazem ciência dentro e fora de Portugal. Esta iniciativa faz particularmente sentido para aqueles que, como eu, já passaram por diferentes países, pois permite-me manter contacto com a comunidade científica portuguesa mesmo em caso de mudança de local de trabalho, país ou mesmo continente.
GPS/Fundação Francisco Manuel dos Santos
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva