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Redes sociais, ou redes marginais? |
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Não falo apenas da cultura do like, ou da própria diferenciação de tratamento, mas sim do facto da dignidade da pessoa humana (e recorro ao conceito do universo kantiano propositadamente) ficar dependente de uma reputação que adquire (ou não) a posteriori da validação social de terceiros. Ora, um exemplo concreto deste cenário não distópico é o Social Credit System proposto pelo Governo Chinês (ainda na modalidade de participação voluntária até 2020) - “Planning Outline for the Construction of a Social Credit System (2014-2020)”, em vista à construção de um sistema de reputação nacional através da análise de big data.
Para lá das redes sociais assumirem um papel marginalizante, está em causa, mais uma vez, o controlo social pela implementação de ferramentas tecnológicas que, num primeiro momento, parecem seguras. Mas, quem vai avaliar a credibilidade da avaliação de um órgão governativo que define, a priori, a credibilidade de cada pessoa, ou o seu direito a ter direitos?
Parece que a tecnologia nos conduz a uma regressão histórica e assistimos, acriticamente, ao projetar de um novo modelo de estratificação social estabelecido por um score baseado numa noção de credibilidade assente na análise de esferas como, que tipo compras faz online, quais as contas que paga dentro do prazo contratual, ou qual o tipo interação social que estabelece. No fundo, uma análise comportamental feita através de dados armazenados passa a estabelecer o seu “grau de credibilidade” social que, no caso do Social Credit System, será recompensado e aumentado sob várias modalidades (p. ex. ter acesso a um empréstimo)...
Perante tudo isto, resta perguntar: onde ficam o princípio da dignidade da pessoa humana e os seus direitos fundamentais ?
Lia Raquel Neves
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva