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|Hélio Bernardo Lopes| |
E se nos deslocarmos para o caso dos jornais com edição simplesmente online, bom, esse número diminui ainda mais. Precisamente o que penso que deverá ter lugar com o jornal, OBSERVADOR.
Ora, neste jornal surgiu, há dias, um texto da jornalista Helena Matos, intitulado, COMO VIVER UMA CATÁSTROFE SEM PODER DIZER SALAZAR?, por cujo título foi chamada, de um modo forte, a minha atenção. Além do mais, mormente através do programa televisivo, O PRINCÍPIO DE INCERTEZA, eu conhecia já que Helena Matos se constitui numa personalidade conservadora. Por tudo isto, de terminei-me a ler o texto em causa – em geral, não os leio –, ficando deveras impressionado. E fiquei assim porque encontrei na jornalista lucidez e coragem. Infelizmente, ingredientes raros nos dias de hoje, onde se mente ou deturpa como quem toma um copo de água à temperatura desejada.
Encontrei coragem porque a atribuição a Salazar da causa de todos os males nacionais se tornou moda, numa prática muito facilitada por via do modo português de viver os acontecimentos públicos, muito pautado pela cobardia, pela ignorância histórica e pelo desinteresse. Por tudo isto, escrever a verdade que Helena Matos expôs no seu texto constitui-se, de facto, num ato deveras singular no ambiente jornalístico português.
Mas encontrei, por igual, lucidez, dado que Helena Matos foi capaz de encontrar as linhas de força que tanto marcam o modo como os portugueses, desde há muito, quase tudo toleram, evitando assumir as responsabilidades que são de quase todos. Quantos portugueses, perante a seca e a Legionella, continuam a tomar banhos quase no limite do suportável em termos de temperatura, ou a fazer a barba na banheira com a água quente a chegar do esquentador? A verdade é que a culpa acaba sempre por se de alguém que não cada um dos que assim procedem e logo se queixam.
Como se vê, o interesse deste meu texto é só um: se puder, caro leitor, procure encontrar e ler este texto de Helena Matos, porque nele irá encontrar uma explicação para muito do que marca hoje e desde há imenso o modo português de estar na vida, naturalmente com as consequências que se conhecem.