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|Hélio Bernardo Lopes| |
Foi este último efeito que acabou por produzir a moção de censura ao Governo de António Costa, proposta pelo CDS/PP e votada e reprovada hoje mesmo na Assembleia da República.
Tornou-se logo evidente que se tratava de um ato político destinado a tirar proveito da consternação dos atingidos e, se possível, de um maior número de portugueses. De resto, esta perceção derivava logo do facto de ir essa moção ser reprovada, embora esta realidade nunca pudesse ser impeditiva de tal iniciativa.
Esta moção de censura do CDS/PP contra o Governo de António Costa constitui-se num autêntico isomorfismo da iniciativa tomada por Assunção Cristas de ser candidata à Câmara Municipal de Lisboa, assim deixando o PPD/PSD nas aflitinhas, sem que Pedro Passos Coelho conseguisse assumir-se como candidato. O resultado foi o que se viu.
Esta moção de censura do CDS/PP é um verdadeiro isomorfismo da candidatura de Assunção, porque não servindo para nada – fortaleceu o Governo de António Costa, como salientou o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa –, ainda voltou a colocar o PPD/PSD numa posição subalterna em face do CDS/PPP. Hoje, de um modo objetivo, quem lidera a oposição é o CDS/PP.
Acontece que os cidadãos não elaboram raciocínios deste tipo, antes reconhecem, fácil e objetivamente, que se trata de um truque grotesco, como tão bem caraterizou Catarina Martins na Assembleia da República. À generalidade dos portugueses não passa ao lado o objetivo fortemente aparente desta iniciativa do CDS/PP. E é esta a imagem que se vai instalar no seio da nossa comunidade humana, que acabará por criticar a iniciativa e por rir das intervenções do que vier a ser dito pelo CDS/PP na Assembleia da República. E pelo PPD/PSD, obviamente.
Se a iniciativa da candidatura de Assunção Cristas foi sempre correta e muito útil ao CDS/PP, esta da moção de censura já se constitui num verdadeiro desastre político. Por um lado, porque estaria sempre votada ao insucesso. Depois, porque sempre teria de instalar-se a ideia de um aproveitamento da desgraça com fins político-partidários. E, por outro lado, porque os portugueses perceberam muito bem que o caso destes incêndios é recorrente, com sucessivos governantes, só tendo agora assumido as proporções que se viram por via do número cabalmente inusitado de vítimas mortais. Ou seja, o CDS/PP acabou por lançar um autêntico boomerang político. Para si e para o PPD/PSD.