Do 5 ao 9 de outubro

|Hélio Bernardo Lopes|
Como pude já escrever, e também se pôde ver à saciedade, na campanha eleitoral para o Presidente da República, escolhi, naturalmente, o académico António Sampaio da Nóvoa. A razão central foi dupla: por um lado, estava completamente à altura do exercício do cargo; por outro, não concitava o potencial híbrido e sempre arriscado, em matéria de opções político-partidárias, de Marcelo Rebelo de Sousa. 

A grande comunicação social, de parceria com a Direita – incluo aqui a que também está presente no PS –, acabaram por determinar a vitória do atual Presidente da República.

De igual modo, pude também já escrever que os portugueses ligaram sempre pouco à democracia. De parceria com a incerteza crescente que se vem criando desde a Revolução de Abril, em matéria de segurança na vida, os portugueses foram manifestando o seu descontentamento através da abstenção. Uma realidade que se viu muitíssimo potenciada com a ditadura mundial e europeia do neoliberalismo. O voto de cada um, portanto, passou a contar cada vez menos.

Por tudo isto, Marcelo Rebelo de Sousa tem sido muitíssimo bem recebido em todo o lado e por quase todos os portugueses. Sem responsabilidades reais e com impacto na vida dos portugueses, os beijos que distribui e as mil e uma visitas que realiza criam uma empatia profunda, mas que é já reconhecida como apenas só isso. Ao mesmo tempo, juntou-se, com unhas e dentes, à Igreja Católica e ao papel das Forças Armadas. O problema é que estas duas instituições não resolvem quase nada de concreto, desde conflitos perigosos para a vida na Terra a desastres humanitários.

Ao mesmo tempo, sempre brincando, Marcelo lá vai dando umas bicadinhas no Governo, por vezes no otimismo do Primeiro-Ministro. Chega mesmo a marcar tempos que ninguém cumpre, desde o Governo aos privados, mas que, por isso mesmo, acabam por tocar, embora minimamente, a imagem daquele. Ora, por estes dias os portugueses tiveram dois acontecimentos importantes e que poderão ter repercussões estratégicas na vida político-partidária portuguesa: o discurso de 5 de Outubro e o almoço com Pedro Santana Lopes. E se do primeiro facilmente se pôde perceber que nele afloraram algumas posições que podem anunciar alguma perturbação futura na governação, já do segundo se justificam umas palavrinhas.

Por muito que nos digam o Presidente da República e o próprio Pedro Santana Lopes, nunca quem quer que seja aceitará as explicações já apresentadas. Uma ponderação ínfima levaria sempre a realizar este almoço em data distante, no mínimo, desta corrida à liderança entre Rui Rio – o mais preferido, de longe, pelo eleitorado – e Pedro Santana Lopes – um razoável herdeiro do dito passismo. Objetivamente, Pedro Santana Lopes apresentou-se sempre como um liberal, ou seja, um neoliberal, sempre apoiando, ou dizendo compreender, as medidas mais duras da governação de Pedro Passos Coelho.

Com um ínfimo de atenção, os portugueses facilmente perceberão que Pedro Santana Lopes será um líder do PSD na continuidade de Pedro Passos Coelho – e de Portas e Cristas, claro está – em matéria política. Objetivamente, Pedro Santana Lopes é um candidato da máquina aparelhística deixada por Miguel Relvas e Marco António Costa e que foi sendo fortalecida ao longo da governação de Pedros Passos Coelho. Será o nascimento de uma nova Maioria-Governo-Presidente, dado que não é possível com Rui Rio, concidadão absolutamente independente do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Tal como se dava já com Pedro Passos Coelho.

Como facilmente se percebe, Marcelo Rebelo de Sousa e Pedro Santana Lopes nem com o Papa Francisco ao lado conseguiriam convencer os portugueses sobre a razão de ser deste almoço enntre os dois. Foi o mesmo uma daquelas situações em que o que parece é... Até porque no mundo da política nada é por acaso.

Quanto ao facto de Rui Rio ter tecido críticas à anterior Maioria-Governo-Presidente, a verdade é que também Manuela Ferreira Leite, Luís Marques Mendes, José Eduardo Martins, Pedro Duarte e José Pacheco Pereira as fizeram. Até António Lobo Xavier as fez e em profusão. O que é estranho – não é...– é que Marcelo Rebelo de Sousa, Diogo Freitas do Amaral, João Salgueiro, Manuela Ferreira Leite, Aníbal Cavaco Silva e mil e um outros, se o primeiro não fosse Presidente da República, viessem agora colocar-se na defensiva de Pedro Santana Lopes e contra Rui Rio!

Se Pedro Santana Lopes vier a ser o escolhido pela máquina do PSD, bom, lá verão os portugueses uma reedição da anterior Maioria-Governo-Presidente, embora agora com outras personagens políticas. Desta vez, ainda no plano potencial. Será a velha Maioria-Governo-Presidente, mas por outros passos. Ora, é essencial ter presente o grande desígnio de sempre do PSD: pôr um fim no Estado Social e privatizar tudo e umas botas mais. E cá fico à espera, depois deste almoço recente, dos novos erros de palmatória – sim, porque este almoço foi mera coincidência – do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. E já agora: quem será o preferido, lá no seu íntimo, de Marcelo Rebelo de Sousa, Santana ou Rio? O que pensa o leitor?

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