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|Hélio Bernardo Lopes| |
Assim, fala-se da vasta corrupção que estará presente em Angola, mas já pouco ou nada se toca no que tem lugar em Portugal neste mesmo domínio. Duvido que algum político de primeira grandeza alguma vez se tenha feito eco das palavras de Joana Marques Vidal sobre a existência, aqui, de uma REDE. Até o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, com rara infelicidade, acabou por inviabilizar uma essencialíssima medida de levantamento de situações estranhas, ao recusar o acompanhamento da movimentação bancária global anual dos cidadãos. Deste modo, as autoridades competentes ficaram impossibilitadas de poder usar um instrumento de alerta simples e automático. Competia-lhes, depois, em face das dúvidas suscitadas, proceder à investigação da referida estranheza.
Infelizmente, em Portugal foi-se mesmo mais longe, chegando-se ao ponto de proibir que os funcionários da Autoridade Tributária pudessem consultar a situação financeira dos cidadãos, fossem eles quem fossem. Filizmente, parece que as punições que haviam sido aplicadas neste domínio foram há dias perdoadas. Então e a tão badalada lista VIP? Bom, disse-se não ser verdade. E os perdões por via de dinheiro saído para o estrangeiro, regressado com excelentes condições? Bom, a vida prosseguiu, quase linearmente.
Voltemos, porém, a Angola. Os nossos jornalistas, políticos – em geral –, analistas e comentadores falam de Angola e do MPLA como se apenas este tivesse estado presente na História de Angola, mormente depois da independência da nossa antiga província ultramarina. Pouco se refere sobre a UNITA e sobre a FNLA, antes e depois da independência. Faz-se por esquecer que foram os Estados Unidos os primeiros a tentar condicionar a vida política de Angola, ainda antes da independência e com António de Spínola como Presidente da República. Evita-se expor a verdade sobre a invasão das tropas da Afríca dio Sul – era o tempo do Apartheid – sobre Angola, que acabou por levar o MPLA a pedir o apoio das Forças Armadas de Cuba. E nem por um minuto se procurou obter uma entrevista com John Stockwell, que foi chefe da estação da CIA em Kinshasa, e nos ofereceu a verdade que conheceu no seu livro, A CIA CONTRA ANGOLA.
Esta nossa rapaziada política pró-UNITA e anti-MPLA – os Estados Unidos acabaram por deitá-los às urtigas...– é a mesma que se passou, com armas e bagagens, para o modelo neoliberal e quase não pestaneja com os trágicos resultados da globalização. São os mesmos que sempre acusaram os políticos da II República de operar chapeladas nos nossos atos eleitorais, mas sempre elogiaram a Democracia Cristã – a italiana era a mais referente –, recusando reconhecer que esta havia sempre vencido as eleições italianas através, precisamente, de chapeladas sucessivas, para tal usando os serviços da CIA, presentes na embaixada dos Estados Unidos em Roma. São os mesmos que nunca referiram os crimes da Gládio, de parceria com mil e um das Forças Armadas de Itália e com tantos outros do Vaticano. São, por fim, os que nunca teceram um comentário sobre o que se passou ao redor da morte de João Paulo I, com os mais diversos homicídios que se conhecem e sobre que nunca se preocuparam, depois da Revolução de Abril, em fazer alguma luz sobre a famigerada Aginter Press. OTAN oblige...
Desta vez, como teria de dar-se, continua a lançar-se a dúvida sobre as recentes eleições em Angola, apesar de até a embaixadora dos Estados Unidos – temos Donal Trump na liderança norte-americana...– as ter considerado exemplares. E, em boa verdade, estas eleições constituem um acontecimento exemplarmente singular no continente africano. Os angolanos não se lançaram para o vazio, assim como se esperassem vir a encontrar uma rede protetora pelo caminho. Pelo contrário, mostraram o bom senso e a prudência que se impunham. Como alguém disse, é preferível uma eleição calma com erros, que uma guerra violenta bem conduzida. E foi isto que os angolanos perceberam.
Os nossos lamentáveis intelectuais, infelizmente de um modo bastante razoável, mostram-se hoje contentes por estar Portugal no seio da famigerada União Europeia, embora como um protetorado, como um político português importante definiu a nossa situação. Precisamente o que Marcelo Caetano um dia referiu numa sua Conversa em Família: sem o ultramar português, Portugal ficaria reduzido a uma província da Europa. Parece que só hoje os políticos portugueses se deram conta da verdade contida nas palavras de Salazar, numa conversa com amigos seus, que lhe referiam as independências que estavam a ser concedidas a tantos outros territórios ultramarinos: eu também iria por aí, simplesmente nós não temos capacidade de exploração em regime neocolonial. Bom, a verdade é que o Ministro das Finanças da Alemanha apontou já o continente africano como um espaço a ser promovido no seu desenvolvimento – pensava nas vantagens para a Alemanha, claro está –, tal como a China vem correndo para a África com enorme velocidade – o caso angolano é exemplar.
Para já, Angola triunfou. E de um modo bastante contundente. Formulo agora votos para que o futuro líder angolano, João Lourenço, conduza Angola e o seu povo a novas vitórias nos cinco anos que aí vêm.
Formulo agora votos para que o futuro líder angolano, João Lourenço, conduza Angola e o seu povo a novas vitórias nos cinco anos que aí vêm. Mas será que os partidos ora derrotados irão repetir a dolorosa situação do tempo de um sujeito como Savimbi? Faltar-lhes-á a vontade? Claro que não! E terão condições para tal? Não creio, mas veremos.