Entre Maduro e Temer

|Hélio Bernardo Lopes|
Lá teve lugar, finalmente, a votação política que, por razões estritamente político-partidárias, levou a que Michel Temer, Presidente do Brasil, fosse impedido de ser analisado pelas autoridades judiciais do país. Trata-se, objetivamente, de uma substituição do Sistema de Justiça pelo Sistema Político, deitando por terra essa lenga-enga da separação dos poderes político, legislativo e judicial.

Este caso mostra a fantástica mentira e a tremenda hipocrisia com que se move hoje a classe política no mundo, porque ainda há dias se apontava ao Presidente Maduro a violação da separação de poderes, recusando a nova Assembleia Constituinte, mas já agora se sobrevoa, com a maior naturalidade, uma evidente violação da separação dos poderes. Talvez valha a pena mudar a nossa Constituição, levando a salvações similares dos que, na classe política, por aqui possam ser demandados pelo Sistema de Justiça.

Interessante é constatar como, num ápice, se passou da acusação de ilegalidade da convocação da Assembleia Constituinte – não foi ilegal – para uma batota na contagem dos votos, ao mesmo tempo que os acusadores desta (dita) batota se puseram a milhas do seu país. É fácil perceber que o pior que lhes poderia vir a acontecer seria serem detidos, sendo impensável, na situação criada, que fossem assassinados.

Mostra isto, pois, que, afinal, a convocação da Assembleia Constituinte foi um ato legal, pelo que teve de deitar-se mão de um outro suposto acontecimento, falso ou verdadeiro. E se se vier a provar ter-se tratado de mais uma mentira, desta vez da tal empresa multinacional venezuelana, logo se procurará uma outra desculpa, seja ela a que for. Certo, isso sim, é que o Tribunal Superior Eleitoral já assegurou não terem fundamento as explicações da tal empresa. Um tema sobre que é bom recordar as palavras do arquiteto Juan Pablo Escobar ao redor das ligações da CIA ao narcotráfico, e como estas se projetaram no mentiroso filme sobre a suposta vida de seu pai.

O que este binómio Maduro-Temer está a mostrar – é sempre assim em política –, é a dualidade de critérios que se utilizam em nome da defesa da separação de poderes numa democracia: afinal, Michel Temer não pode ser demandado pelo Sistema de Justiça, dado que os seus colegas capangas da política assim o decidiram. Ou seja e de um modo simples e sintético: a lei é igual para todos no Brasil, mas não na Venezuela... O leitor já começou a gargalhar?

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