Um militar de grande coragem e de consciência forte

|Hélio Bernardo Lopes|
Foi com uma enorme satisfação, até com alguma alegria, que ontem pude acompanhar a pressença dos coronéis Vasco Lourenço e Rodrigo de Sousa e Castro no programa 360 da RTP 3, que ontem pude acompanhar, pouco após a hora do jantar. Muito em particular, o segundo, de quem li uma interessantíssima e assertiva entrevista ao i, nas vésperas de 25 de abril de há uns três anos ou quatro.

Foram duas prestações extremamente úteis e clarificadoras, de que merecem referência especcial três delas, duas do primeiro, outra do Rodrigo. É sobre estas intervenções que me determinei hoje a escrever um pouco.

Em primeiro lugar, Vasco Lourença referiu a sua estranheza pelo facto de não ser nomeado Ministro da Defesa Nacional um militar. Não creio estar aqui errado, porque esta ideia pode ter surgido numa qualquer outra intervenção das que varrem agora a grande comunicação social. Trata-se, em todo o caso, de um caminho que, de um modo muito geral, nunca é cumprido na generalidade dos Estados de Direito Democrático, agora com a exceção dos Estados Unidos, onde Donald Trump escolheu para Secretário da Defesa James Mattis – Cão Raivoso. O problema é que, como apontou a tempo e horas Eisenhower, o real poder norte-americano reside nos interesses do complexo militar-industrial. No resto do mundo nunca é assim.

Esta solução, porém, teria outras consequências desagradáveis, para o que basta olhar para a terrível má vontade de que foi alvo José Pedro Aguiar-Branco e agora José Azeredo Lopes. Um militar como Ministro da Defesa Nacional, numa situação de conflito entre poder político e poder militar, mesmo que a razão assistisse ao primeiro, só no domínio do imaginário daria razão ao poder político. Basta olhar para as limitações que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa criou a si mesmo, com as mil e uma cartas brancas constantemente concedidas às Forças Armadas e aos militares. Só lhe faltou, até hoje, atribuir-lhes uma condição definitória de infalibilidade. E foi esta realidade que permitiu sonhar com a tal manifestação em frente ao Palácio de Belém: uma forma, com ou sem manifestação, de tentar pressionar e condicionar o Presidente da República. O resto são tretas...

Em segundo lugar, a outra intervenção de Vasco Lourenço, a cuja luz o poder político tem, de uma vez por todas, de dizer que Forças Armadas pretende para Portugal. Simplesmente, esta decisão está tomada: não as extinguir, como é lógico, mas reduzir ao máximo os gastos com a sua exiistência. Foi por não ter sido assim que a embaixada dos Estados Unidos enviou para a Secretaria de Estado o tal telegrama revelado pela WikiLeaks...

Nenhum destes dois nossos militares de referência desconhece a real vontade dos portugueses neste domínio, que vai muitíssimo bem ao encontro das mil e uma críticas do Papa Francisco à guerra, aos armamentos, etc.. Há muito que se conhece que os portugueses não desejam gastos elevados com assuntos militares, embora aceitem os mesmos, porventura acrescidos, com aspetos ligados à segurança. E se é verdade que Miguel Monjardino terá toda a razão quando refere que Portugal dispõe hoje apenas de duas companhias em missões internacionais, a verdade é que não precisamos de muito mais, sendo que até poderemos operar um acréscimo, se acaso se mosttrar necessário. As nossas Forças Armas podem ser excecionais, ter excelentes capacidades, mas em áreas muito específicas, como, por exemplo, terem um regimento de engenharia que seja capaz de montar uma rede de proteção do mesmo, sem ter de recorrer a uma empresa privada.

Seria muito interessante que se criasse, por exemplo, tal como se dá com a Suíça, um mecanismo que integre a generalidade dos nossos jovens na estrutura militar, passando a constituir uma quadrícula integrada numa estrutura de comando que pode ser pequena mas muito eficaz. Em contrapartida, impõe-se investir bem mais na Marinha e na Força Aérea. E quanto ao financiamento, não sendo ministro, acho que é simples a imaginação média para se saber aonde ir buscar verbas essenciais às Forças Armadas. E já agora: um semestre – nem mais um dia – de introdução à vida militar chega e sobra, depois renovado com uma quinzena anual de atualização e retoma de conhecimentos.

Por fim, uma clarificadora intervenção de Rodrigo de Sousa e Castro. Teve este nosso Capitão de Abril e coragem de dizer esta verdade evidente, mas que a nossa direta jornalística evita falar: com ou sem vídeovigilância, o comando da unidade tem o dever de garantir a segurança dos seus militares e das armas à sua guarda. E de pronto completou: ponto final parágrafo!

Aqui está um Capitão de Abril que, com meia dúzia de palavras, deixou os nossos jornalistas a anos-luz no domínio da capacidade de análise e de falar verdade sobre o que realmente se passou neste caso de Tancos. O Ministro da Defesa Nacional não teve nada que ver com o facto da segurança não ter funcionado, ou estar mal estruturada. O próprio Vasco Lourenço, partindo do que até pôde escutar ao general Rovisco Duarte, ficou perplexo com o intervalo divulgado entre rondas sucessivas: vinte horas...

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