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|Hélio Bernardo Lopes| |
É verdade que o nosso ordenamento jurídico a não contempla, mas também se sabe, até por sucessivas sondagens, que os portugueses, a terem de tomar uma decisão, no regresso da mesma votariam. E assim se dá com o racismo, realidade cada dia mais omnipresente em Portugal, ainda que por via de formas subtis.
Acontece que o nosso Sistema Educativo, em boa verdade, quase não trata a problemática do racismo, como as relacionadas com tantos outros domínios que são importantes e essenciais à preparação de uma sociedade de gente livre e um dia adulta. Chega-se ao final do Secundário quase desconhecendo a realidade política da Nação. Desconhece-se, cabalmente, a Constituição da República, tal como as grandes instituições do País.
Em paralelo, as diversas estruturas públicas acabam por deixar criar guetos sociais e rácicos, sem que invistam num caminho destinado a uma verdadeira integração social. Simultaneamente, olhamos hoje o continente africano e constatamos o estado de miséria, pobreza, corrupção e subdesenvolvimento em que se encontra. Sem quadros capazes, sem uma visão política estratégica para si mesmo, o continente africano, depois de terem saído as antigas potências europeias, está agora à mercê da grande estratégia chinesa e da nova estratégia alemã. Aqui está, pois, o que, um dia, no tempo da II República, disse em Luanda certo cônsul sueco, já um pouco enebriado: vocês não têm capacidade para possuir uma riqueza destas. Miguel Sousa Tavares, no seu EQUADOR, mostra esta realidade de um modo muito transparente.
Pensando um pouco, olhando a experiência e o tempo que passa, percebe-se que este problema terá tendência para piorar em Portugal. É um domínio que está a piorar em intensidade e frequência. E resta saber, desde que se não usem preconceitos, se o mesmo tem solução. Já lá vão perto de cinco décadas, desde que certo assistente meu de Química Geral, já com idade para ser meu pai, muito amigo, me questionou sobre a política de então de Salazar: olha lá, meu filho, tu achas que a miscigenação é possível?... Bom, compreendi o sentido da pergunta e, nada tendo de racista, também não fui capaz de responder ao que estava ali a ser colocado: uma coisa era eu, outra o meu assistente – ele sim, era racista, mas sem o referir nunca – e outra, ainda, o resto dos portugueses. Como se vê, o problema mantém-se.