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|Hélio Bernardo Lopes| |
Como se sabe desde esse tempo, os Estados europeus passaram a estar completamente dependentes dos Estados Unidos. Chega a parecer patética a aflição em face da eleição de Donald Trump, apesar de se vir tornando mais real a perceção de que Trump e a sua equipa de poder poderão lançar o mundo num novo conflito mundial. Um conflito que, em mui boa medida, já começou a ser preparado, embora com manifestações de bondade, charme e simpatia, pelo par Obama-Hillary. Insere-se nesta realidade a visita do anterior líder norte-americano ao Vaticano.
Por tudo isto, é sem estranheza que se constata a completa ausência de reações das mil e um forças políticas portuguesas em face deste caminhar, sob a batuta norte-americana, para a guerra. Nem mesmo PCP, Bloco de Esquerda e Verdes dizem uma palavra sobre o tema. E assim é também o que se passa com os nossos designados intelectuais, bem como com a enormíssima maioria dos nossos jornalistas. Duvido de que alguma vez tenha sido tão grande o medo, ao redor deste tipo de tema, no nosso País. Aliás, esta reação vem já da Cimeira das Lajes, onde não faltou quem apoiasse e quem decidisse manter-se em silêncio. E desde a primeira hora.
De tudo isto, vem sobressaindo a guerra na Síria. Diariamente, numa autêntica campanha de propaganda, os nossos canais televisivos foram mostrando imagens, reais ou não, desta guerra. Os migrantes, como diziam, viriam todos da Síria, onde o número de mortos ascenderia a muitas centenas de milhares. Não faltavam, pois, mortos, feridos e refugiados. E sempre da Síria.
No entretanto, perante o descalabro criado pelos Estados Unidos e consentido e apoiado pelos Estados da Europa, começou o real combate ao Estado Islâmico. Chegou-se, assim, a Mossul. Simplesmente, os nossos canais televisivos nunca apresentam imagens da guerra de reconquista desta cidade, ou das restantes que estiveram ou estão nas mãos do Estado Islâmico.
Acontece que as coisas são como são, pelo que a verdade acabou por aqui chegar. Afinal, o número de mortos na Síria é de dezenas de milhares, não de centenas de milhares, e também existem civis mortos em Mossul e nas outras cidades que haviam sido tomadas pelo Estado Islâmico. Então, com um cinismo inominável, o Secretário da Defesa dos Estados Unidos, James Mattis – Cão Raivoso –, lá nos veio agora dizer que as vítimas civis são inevitáveis na guerra contra o Estado Islâmico. O que era um horror, diariamente brandido pelas nossas televisões, é agora coisa normal e inevitável... Simplesmente, os Estados Unidos e a sua coligação internacional têm em curso, desde 2014, bombardeamentos aéreos no Iraque e na Síria contra o Estado Islâmico, sendo que, segundo organizações não-governamentais, vêm provocando cada vez mais vítimas civis. Mas, não sendo a Rússia ou a Síria a operar os bombardeamentos, as mortes de civis são como no-lo disse, repleto de cinismo, James Mattis – Cão Raivaso: uma inevitabilidade.
Assim, uma organização não governamental no terreno dos ataques assegura que o número de vítimas civis dos bombardeamentos dos Estados Unidos e dos seus colegas da tal coligação ascenderão já e ao menos aos 3800. Tudo isto decorre em paralelo com as mil e uma diatribes derivadas da grande farsa a que chegou a dita democracia norte-americana. De facto, uma plutocracia.
Dizendo-se preocupados com a tal apontada intervenção informártica da Rússia nas eleições norte-americanas – no mínimo –, os Estados Unidos tiveram agora a corretíssima resposta de Vladimir Putin: os Estados Unidos interferem ativamente nas campanhas eleitorais em todo o mundo, não havendo lugar que se aponte no mapa que não tenha queixas de que oficiais americanos interferem em seus processos políticos internos. Basta olhar tudo o que já disse Donald Trump e gente da sua área sobre o Brexit e Le Pen, e sobre a União Europeia, mesmo podendo ter razão. O que é espantoso em tudo isto é o fantástico cinismo norte-americano em matéria política e de Direitos Humanos, aqui acompanhados por uma generalizada cobardia política na Europa e por entre os seus intelectuais, jornalistas, analistas, comentadores, etc.. É difícil a um lacaio deixar de o ser.