O fracasso da senhora May

|Hélio Bernardo Loeps|
Dizia-me a minha mulher, na manhã desta sexta-feira, quando fazíamos a cama a dois, que a vida é muito madrasta. Um desabafo que se prendia com certa atitude de ontem no nosso neto, fruto, como lhe expliquei, daquela passagem pela idade da truculenta e perigosa transformação. 

Bom, respondi-lhe que as coisas foram e são sempre assim, relembrando-a do que comigo se passou, muitíssimo pior que o que se dá hoje com o nosso neto.

Significa isto que a vida comporta sempre arrelias e novidades, por vezes nem sequer o sendo. Precisamente o que se dá com Thereza May, que lidera o atual Governo do Reino Unido.

Haja o que houver, a verdade objetiva é que Thereza May acabou de sofrer uma nova derrota. Desta vez, porém, a derrota comporta um sabor imensamente desagradável, dado que a líder britânica apontou sempre esta eleição como um instrumento destinado a reforçar o seu poder negocial junto da União Europeia, tendo em vista as consequências do BREXIIT. Ora, se precisava de reforçar o seu papel quando dispunha de maioria absoluta, tudo agora falhou, pois perdeu essa maioria absluta, sendo que se até já tinha anticorpos no seu partido, tudo faz crer que os mesmos irão crescer num futuro muito próximo. Ou seja, uma derrota copiosa.

Em contrapartida, a subida ampla dos trabalhistas, sob a liderança de Jeremy Corbyn, para mais depois das previsões apontadas desde há muito, mostra também que a corrente blairista, de cabal cedência aos grandes interesses, menosprezando a dificílima situação de boa parte da população britânica, mormente os mais idosos e os jovens, constitui-se numa excelente vitória. Uma vitória que foi conseguida com a recolocação do Partido Trabalhista do lado dos que sofrem e da mais elementar justiça social. Ou seja: o Partido Trabalhista subiu porque soube assumir, com Jeremy Corbyn, os seus valores e a sua posição política doutrinária, contrariando a venda da sua alma a troco dos grandes interesses, e que Blair havia corporizado.

A verdadeira prática democrática tem o dever de se mostrar eticamente desinteressada, apenas norteada pelo serviço à comunidade, devendo ter em conta, por isso, o significado dos resultados eleitorais. Neste caso das eleições britânicas, tal terá de significar a saída de Thereza May da chefia do seu Governo. Esta derrota, muito acima de tudo, foi sua, sendo que a campanha eleitoral permitiu perceber o supremo desprezo do Partido Conservador pelos mais idosos, pelo seu património familiar, e pelos mais jovens. Simplesmente, a ética política tem vindo a ser paulatinamente posta no cesto das velharias, à medida que se tem desenvolvido o neoliberalismo e a globalização, pelo que é muito possível que Thereza May continue agarrada ao poder. Deixou de haver ética na política.

Por fim, um dado que me parece importante salientar: o problema de Thereza May, muito para lá deste desastre eleitoral, resulta do facto elementar de não dispor, ao menos minimamente, do perfil que se requer para liderar um Governo do Reino Unido. A sua imagem foi sempre politicamente muito fraca e não permite que seja levada a sério. Essa sua imagem é um fator fundamental para o enfraquecimento do Reino Unido. E é agora razoavelmente provável que um novo referendo venha a ter lugar, com o recuo a toda a prova do Reino Unido face ao BREXIT. Se assim vier a ser, como tudo faz agora crer, tal virá a constituir-se num dos mais pesados fardos que o Partido Conservador trouxe ao Reino Unido e aos seus povos.

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