E a Extrema-Direita em Portugal?

|João Pedro Batista|
Nos últimos tempos, a Extrema-Direita, como é do conhecimento de todos, tem aumentado o seu protagonismo por toda a Europa, reclamando uma nova política assente em ideais nacionalistas, populistas, patriotas, xenófobos e, essencialmente, islamofóbicos.

Este movimento encontra-se representado pelo ressurgimento de vários partidos (por exemplo na Finlândia, Hungria, Dinamarca, Alemanha, Itália, Holanda, Reino Unido, França…) que reclamam, sobretudo, a perda de identidade dos respetivos países não apenas pela crise social associada ao aumento do número de refugiados, mas também pela “má governação” dos partidos “centristas” aliados à União Europeia. Mas pergunto-me, ao que se deve este ressurgimento?

Em primeiro lugar, todos sabemos que, no atinente aos assuntos relacionados com as relações internacionais, uma determinada comunidade constituída por diversos Estados só mantém um relacionamento estável, moderado e assente no bem-estar quando os valores dos ditos Estados dominantes são, previamente, assegurados em detrimento dos Estados mais fracos.

Em segundo lugar, nas duas últimas décadas, tem se verificado um deslocamento ideológico, na maioria das democracias ocidentais, para a Direita, com, primeiramente, a cedência da social-democracia à Direita neoliberal e agora, parece verificar-se um certo desgaste destas políticas, por parte do eleitorado, o que contribui, de certa maneira, para o florescer da Extrema-Direita.

Em terceiro lugar, além de todo este conservadorismo habitualmente proporcionado por grandes crises socioeconómicas e culturais como a atual, a verdade é que se denota na Europa, e também em Portugal, um ceticismo comum a todos, mesmos naqueles que se identificam como mais otimistas, relativamente à manutenção da União Europeia.

No entanto, ao contrário do que tem vindo a suceder nos países acima referenciados, em Portugal, a Extrema-Direita parece até ao momento conservar alguma “intimidade” e pouca representação política, apesar de há relativamente pouco tempo terem saído do casulo, com a combinada conferência que gerara bastante polémica. Contudo, importa, pois, referir que, em Portugal, a Extrema-Direita não deixara de estar representada (desde o 25 de abril) por uma série de investidas, por vezes violentas, a favor de medidas antissistémicas, autoritárias, nacionalistas e, sobretudo, saudosistas e salazaristas, ainda que atuassem sempre junto de um espaço reservado e “cavernoso”.

Sendo assim, voltando ao ponto fulcral do presente artigo, qual a razão de não se verificar o “surgimento” da Extrema-Direita em Portugal? Porque é que o Partido Nacional Renovador (PNR) não adquire (e felizmente) maior representação política e eleitoral? Primeiro, em Portugal a Esquerda-Radical não ganhou, com a crise económica, o mesmo protagonismo que gostaria ter ganho, nem adquiriu nem por sombras o mesmo que em Espanha ou na Grécia, com o SYRIZA e o “Podemos”.

O que torna o sistema partidário e o eleitorado Português um pouco único, demonstrando, de certo modo, que não seguimos, por norma, as pisadas dos outros. Segundo, a democracia portuguesa tem pouco mais de quarenta anos, encontra-se com os ideais democráticos (quero acreditar que sim) bem conscientes e salvaguardados. Terceiro, a segurança, a ordem e/ou estabilidade social e cultural dos portugueses ainda não foi colocada em causa.

O receio que ocupa os países, acima referidos, associado, essencialmente, à perda de identidade ainda não se verificou em Portugal. Os nossos empregos, tradições, costumes, segurança e estabilidade nunca estiveram, até ao momento, postos em causa, pelo aumento de refugiados a vir para o nosso país, até porque os que vieram “contam-se pelos dedos”. Agora lanço duas últimas questões: será que esta atitude irá perdurar, caso enfrentemos estes problemas? Será que os portugueses têm a capacidade de lidar com estas situações, sem optar por uma “alternativa” conservadora, autoritária e xenófoba? Ficam as questões.

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN