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|Hélio Bernardo Lopes| |
Desta vez, porém, foi de estranheza a minha reação em face do que escutei a Ricardo Monteiro, uma vez que, a uma primeira vista, ficou-me a sensação de que, no futuro, não vale a pena estudar muito, antes pouco e muitas vezes. Se possível, ao redor de matérias as mais diversas. Deixariam de existir cursos de licenciatura, de mestrado, mesmo doutoramentos, passando-se a estudar mil e um temas, uns após outros, ao sabor, objetivamente, da contingência.
A dado passo ouvi mesmo o entrevistador referir que Ricardo Monteiro teria defendido o estudo da Filosofia, da Sociologia e da Antropologia, pondo de lado os caminhos tradicionais da especialidade. Mas é evidente que o avanço da fronteira do conhecimento não é compatível com tal metodologia. Se é que esse avanço fronteiriço é assim tão necessário.
Também me ficou a sensação, até por ter a TVI, desde sempre, uma ligação inicial e forte à Igreja Católica Romana, de que se pretenderá impulsionar os designados cursos tecnológicos e profissionais, levando a que muita da nossa rapaziada deixe de pretender seguir o caminho da universidade.
Seria interessante poder ver Ricardo Monteiro, ou Jorge Miranda, mesmo Aníbal Cavaco Silva, deixarem os seus trabalhos de sempre para se dedicarem à panificação, ou à limpeza de ruas, ou à estucagem de habitações. E mesmo José Alberto Carvalho talvez pudesse vigiar o trânsito ali para os lados dos estúdios da TVI, onde por vezes surgem desastres.
Muito mais interessante e útil seria ver todos estes nossos concidadãos a deslocarem-se para lugares da Terra com grandes carências, a fim de aí servirem as populações com o seu saber, mormente nos domínios da Filosofia, da Sociologia ou da Antropologia. Se assim vier a ser, raros se não darão por convencidos com esta argumentação de Ricardo Monteiro.
Mudar o mundo para melhor é conceptualmente simples, mas muito dificultado pelas caraterísticas da natureza humana. Mesmo admitindo que se nasce (quase) sem nada estrategicamente condicionador, a verdade é que o desenvolvimento humano se dá no seio de um ambiente de há muito viciado. Basta ver a fantástica barafunda que varre hoje a vida político-constitucional dos Estados Unidos. E como com democracias a esmo se chegou à tal situação dos três 10: os dez por cento mais ricos têm dez vezes mais que os dez por cento mais pobres. Uma realidade que pode observar-se, entre nós, em termos da razão entre o vencimento do Presidente da República e o de um engenheiro do LNEC na categoria de entrada, hoje e no tempo de Américo Tomás: um abismo, mas para pior, embora democrático...
Tal como referiu João Paulo II, ao início deste século, falando a cientistas no Vaticano, nós podemos mudar para um mundo melhor, mas também podemos construir um inferno terreno. Infelizmente, é esta a realidade que está a desenvolver-se. E com democracias por quase toda a parte, bem como de guerra nuclear à vista e ainda com o Papa Francisco em Roma. Haverá de convir-se em que é obra.