Toda a atenção é pouca...

|Hélio Bernardo Lopes|
Sabemos todos, sobretudo nos dias de hoje, que toda a atenção é pouca em face do que se vai vendo e ouvindo. Mesmo do que nos chega através dos grandes canais televisivos, onde se espera que se fale com correção e com verdade. Escrevo este texto a propósito de uma intervenção de João Fernando Ramos, ontem, na RTP 2, no noticiário que sucedeu a hora do jantar.

Entendo que vale a pena abordar primeiro uma intervenção de Manuela Moura Guedes, há uns dois anos e tal, a propósito da Câmara Municipal de Lisboa, salientando que, por cada munícipe, existiria uma dúzia de funcionários!! O meu espanto e risada foram então plenos, constantando, ainda, que nenhum dos quatro restantes colegas de painel chamou a atenção para um erro tão clamoroso.

Pois, desta vez coube a João Fernando Ramos protagonizar algo de semelhante. Introduzindo a temática da bomba norte-americana MOAB, há dias lançada no Afeganistão, o jornalista referiu que a potência da mesma era quase idêntica à (da bomba nuclear) de Hiroxima!! Bom, desta vez não ri, mas logo salientei para a minha mulher o crasso erro da afirmação. Façamos, então, um pouco de luz sobre a realidade erradamente tratada ao início da notícia.

Como pôde ver-se, foram ditas coisas sobre as caraterísticas da MOAB as mais diversas. E sempre através de especialistas. Não sendo imensamente afastadas entre si, tudo permitiu perceber que cada um diz o que quer. Mais ou menos. Diferente foi, porém, o caso da referência de João Fernando Ramos.

A MOAB, como todos referiram, transporta cerca de onze toneladas de TNT, ao passo que a bomba lançada sobre Hiroxima tinha uma potência equivalente a dezasseis quilotoneladas daquele produto explosivo – TNT. Ou seja, a bomba de Hiroxima tinha uma potência explosiva equivalente a dezasseis mil toneladas de TNT, valor incomensuravelmente superior ao da MOAB. E isto para lá de outras caraterísticas igualmente perigosas e que, em princípio, não estarão presentes na MOAB.

Claro está que o erro de João Fernando Ramos derivou dos números: onze e dezasseis. O problema é que o primeiro se refere a toneladas, ao passo que segundo exprime quilotoneladas – milhares de toneladas.

Este caso trouxe-me ao pensamento dois erros constantes dos nossos jornalistas. Com grande frequência, falam-nos do Serviço de Informações e Segurança, sendo que o nome correto é Serviço de Informações de Segurança, o que faz toda a diferença: o organismo trabalha com informações de segurança. E é com idêntica frequência que os nossos jornalistas se referem ao Secretário de Estado da Defesa dos Estados Unidos. Ora, James Mattis – Cão Raivoso – é o Secretário da Defesa dos Estados Unidos, assim como outros serão os Secretários da Educação, da Agricultura, da Indústria, etc.. O único que tem o título de Secretário de Estado é Tillerson, que corresponde ao nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros. A palacra “Secretário” que dizer “Ministro”, e, quando é “de Estado” significa Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Acontece que neste mesmo tempo de antena João Fernando Ramos também convidou a académica Felisbela Lopes, que abordou a ação pastoral do Papa Francisco e a sua vinda próxima a Fátima, mas por igual outros aspetos do seu pontificado. Estes temas aparecem hoje tratados por si num dos nossos grandes diários nacionais. E, como seria de esperar, há aspetos relevantes e outros que o não são. Alguns mostram-se mesmo falhos de lógica.

Quando Felisbela Lopes se refere às recentes comemorações do 60 anos do Tratado de Roma, comparando-as com a peregrinação que o Papa fez nesse fim de semana a Milão, há um erro de lógica, porque um Papa – qualquer Papa, incluindo Paulo VI – arrastaria sempre uma multidão muito superior à que se poderia juntar por via daquela primeiro acontecimento. De resto, a União Europeia é hoje uma realidade de há muito posta de lado e indesejada pela grande maioria dos europeus, ao passo que a fé, sendo uma natural projeção antropomórfica, encontra-se imensamente mais distribuída.

Muito diferente – o mais certo seria ser diametralmente oposto – seria o resultado do visionamento de uma final da Champions, através de transmissão televisiva para todo o espaço da catolicidade, à mesma hora da cerimónia em que estivesse o Papa Francisco numa qualquer cerimónia e fosse, por igual, transmitida pela televisão e para o mesmo espaço humano. Ficou para a História uma célebre afirmação dos Beatles.

A verdade é que, mesmo ampliando um discurso anticapitalista que confere centralidade àqueles que foram atirados para as bordas da sociedade, e num tempo em que a Esquerda laica se revela incapaz de reabilitar esses deserdados do sistema, a posição de Jorge Mario Bergoglio é de contracorrente, até popular, embora havendo uma reforma que continua por fazer: a dos dogmas da Igreja. Ou seja: Francisco fala de tudo, aponta caminhos corretos, mas os seus efeitos são quase nulos.

A este propósito, Felisbela Lopes chama a atenção para que a Igreja continua a não reconhecer a comunhão aos divorciados, os direitos dos homossexuais, a ordenação de mulheres, os métodos contracetivos ou as crianças fora do casamento... E é a objetiva realidade. Uma realidade a que se poderia juntar o perigoso estado de pré-guerra que continua a progredir a cada dia que passa. Objetivamente, nada do que vem dizendo o Papa Francisco se materializa em reais melhorias, dos seres humanos e do mundo.

Por fim, Felisbela Lopes acaba por reconhecer a realidade destas coisas ligadas à religião, aqui a católica romana: Francisco parece ter pouco poder perante um Vaticano organicamente avesso a mudanças e com regras que parecem fossilizadas há séculos. Ou seja: não são só os islamitas que se mostram fossilizados, porque é sempre assim com o fenómeno religioso. São as pessoas que criam e suportam o fenómeno religioso, sendo evidente que os seres humanos anseiam por constância na vida. Gostam de se mostrar fossilizados, para entroncar nas palavras da académica.

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