Recorda-se, leitor?

|Hélio Bernardo Lopes|
A generalidade dos portugueses recordará bem o que foi a política de defesa dos Estados Unidos ao tempo de George W. Bush. E até com Barack Obama na Casa Branca, onde aquela política mudou, mas se manteve substantivamente muito próxima.

A teoria de Bush (filho) era operada à luz do que este referiu como preventiva: se os Estados Unidos entendessem que seria essencial atacar certo Estado por razões da sua proteção, seguiriam esse mesmo caminho. Uma doutrina preventiva que vivia completamente à revelia do Direito Internacional Público e era eminentemente subjetiva e pró-conflitual.

Barack Obama seguiu um caminho em tudo idêntico, mas suportado na utilização sistemática de drones. No fundo, a mesma realidade, defendida e praticada por George W. Bush e sua equipa. E aí temos agora Donald Trump, um bronco de todo o tamanho, mas a prosseguir o caminho anteriormente definido e praticado.

O interessante, porém, é constatar o modo hipercrítico com que os políticos europeus olhavam esta prática no tempo de George W. Bush, e como quase nada disseram dos ataques do tempo de Obama, mas usando drones. E agora, já com Trump na Casa Branca, depois das mil e uma críticas que se lhe aposeram, eis que continua a manter-se o silêncio ao redor da mesma política, mas agora com o recurso a armas nucleres, a serem usadas contra a Coreia do Norte.

Pois, num dia destes, a Grã-Bretanha veio assegurar que está pronta a levar a cabo um ataque nuclear preventivo se isso for necessário. Uma garantia dada, precisamente, pelo Ministro da Defesa, Michael Fallon, em entrevista à ВВС Four. Nos termos desta entrevista, Teresa May está pronta a usar mísseis balísticos Trident em condições extremas, mesmo que a Grã-Bretanha não seja atacada. A resposta dos políticos ocidentais e dos ditos intelectuais foi o silêncio. E de António Guterres, bom, nem uma palavrinha...

No meio de tudo isto, o Reino Unido lá teve o bom senso de recusar participar nas negociações a respeito da proibição das armas nucleares. De resto, a paz que temos tido desde 1945 só se deve, precisamente, à existência de armas nucleares. Sem elas, o mundo já teria assistido a sucessivas guerras de Estados com grande poder humano e bélico convencional contra os que lhes conviessem.

O melhor modo de defender a Paz é lutar por ela. E neste momento a Coreia do Norte não representa perigo algum para quem quer que seja. Com ou sem armas nucleares. Se fosse o contrário a realidade, em segundos ela desapareceria do mapa – já em tempos escrevi isto mesmo –, certamente com uma mortandade ampla e quase nunca vista. Mas o mais interessante que se pode ver neste caso da beligerância dos Estados Unidos contra a Coreia do Norte é olhar o modo silenciosamente cúmplice como os políticos ocidentais, os seus jornalistas e os seus intelectuais se desligaram de uma guerra com armas nucleares, motivada, exclusivamente, pela ideia antiga de dominar o mundo, começando pelos insubmissos. É bom recordar o que se passou com o Vietname e com o Laos, que nunca tiveram armas nucleares, e o que esteve prestes a ter lugar com os nossos Açores.

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