O novo binómio Durão-Jorge

|Hélio Bernardo Lopes|
É extremamente raro ler os texto de Vasco Pulido Valente, mas a verdade é que o título do seu mais recente artigo no Observador chamou a minha atenção. 

Bom, caro leitor, perdi-me de riso e de satisfação. Também por aspetos diversos do conteúdo, mas, muito acima disso, pelo seu engraçadíssimo estilo literário. Uma indiscutível boa ajuda para a entrada nesta semana que há pouco começou.

Acontece que, num dia destes, escrevi um texto que intitulei O NOVO DIZ TU, DIREI EU, OU O BINÓMIO JORGE – PEDRO. Pois, no meu texto de hoje retomo, num certo sentido, o tema do meu texto anterior, mas que logo se compreende pelo título: O NOVO BINÓMIO DURÃO – JORGE.

Os mais interessados recordam bem o caso da Guerra do Iraque, suportada numa evidentíssima mentira, e que tanto ajudou ao estado atual de guerras que vão varrendo o mundo, em especial toda a região de Médio Oriente. Para já não referir o que se passou por todo o Norte de África. A verdade é que os Estados europeus que se deixaram levar pela loucura estratégica dos Estados Unidos acabaram por ver-se a braços com a chegada de levas sem limites de refugiados, para lá de terem ajudado aos milhares de mortos por toda a Síria, Iraque, Turquia e Mediterrâneo. Uma loucura!

Acontece que aquela criminosa Guerra do Iraque teve também a colabooração de Portugal. Uma colaboração onde uns quantos, algo idiotamente, deram a cara, mas onde outros procuraram sobreviver por entre os pingos da chuva. E, como se percebe facilmente, houve toscos que logo foram no filme posto a correr nos centros comunicacionais do costume. Mas houve, por igual, os que não se deixram ir por tais balelas, expondo, com as suas possibilidades, a realidade que terá estado por detrás das decisões tomadas. Ou aparentemente tomadas. Eu fui um destes.

Ora, ao redor da Guerra do Iraque o recente segundo volume da biografia autorizada de Jorge Sampaio fez nascer um novo binómio: o binómio Durão – Jorge.

Acontece que a versão biográfica do ex-Presidente da República assegura que Jorge Sampaio foi o último a saber da reunião dos Açores, que antecedeu a Guerra do Iraque. Simplesmente, Durão Barroso de pronto veio a terreiro assegurar que informou o ex-Presidente Jorge Sampaio sobre a realização da Cimeira das Lajes, nos Açores, quase imediatamente após receber um pedido nesse sentido do então chefe do Governo Espanhol.

Devo dizer que não duvido, minimamente que seja, desta versão de José Manuel Durão Barroso, até porque nada em Jorge Sampaio, sobretudo como Presidente da República, indicaria que este se poderia opor, e do modo que fosse, à referida cimeira política. Se há partido político em Portugal que sempre esteve incondicionalmente ao lado da grande estratégia dos Estados Unidos, esse partido foi sempre o PS. O próprio Mário Soares, com grande espanto meu, mostrou a Clara Ferreira Alves uma grande compreensão com os ataques nucleares dos Estados Unidos às duas cidades japonesas que se conhecem. Uma tomada de posição que levou Clara a colocar umas duas vezes a questão em causa, tal terá sido o inesperado do ponto de vista! E é bom não esquecer a fantástica argolada do PS, ao longo dos anos, com o seu apoio à UNITA, de pronto abandonada pelos Estados Unidos logo que conveniente.

A posição exposta por Jorge Sampaio neste segundo volume foge a toda a lógica, porque Durão Barroso sabia muitíssimo bem que da parte do PS – Jorge Sampaio, de resto, era até o Presidente da República de Portugal – nunca seriam colocados obstáculos reais à cimeira em causa. E muito menos à guerra em si mesma, violadora que foi do (inútil) Direito Internacional Público. Um aspeto sobre que vale a pena recordar o comentário do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, quando aí nos surgia aos domingos: desde o meu segundo ano de Direito que sempre aprendi que as normas do Direito Internacional Público só se aplicam quando interessam aos mais fortes. E é a realidade.

Para a História, os jornais do tempo venderam que a oposição do Presidente Jorge Sampaio à guerra era total. O problema está em Durão Barroso, mas também na capacidade de cada um ser capaz de conjeturar o que se contém naquele segundo volume em termos de plausibilidade. E basta pensar um pouco, para se depreender facilmente que Durão Barroso deverá ter, neste aspeto e quase com toda a certeza, a plena razão. Até porque se a versão correta fosse a de Jorge Sampaio, logo teria surgido na grande comunicação social que o Presidente da República se teria – e aí legitimamente – considerado alvo de uma grave deslealdade: o Primeiro-Ministro havia, então, envolvido Portugal numa ação internacional com gravidade, mas sem nada dizer desde o início da mesma. Bom, como se percebe, tal simplesmente não pode ter tido lugar. Até porque se tivesse acontecido tal realidade, ter-se-ia de tirar a (errada) conclusão de que o Presidente Jorge Sampaio aceitava tudo e umas botas mais. Espero, pois, que não voltem a surgir por aí novo binómios deste tipo.

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