Coisas deste tempo

|Hélio Bernardo Lopes|
Dizia ontem na SIC Notícias o major-general Rudolfo Bacelar Begonha que o tempo nunca foi tão bom, para os (ditos) especialistas de Ciência Política e de Relações Internacionais, como o que ora decorre no mundo. 

E então depois da vitória do bronco Donald Trump, bom, nem se fala! Por um acaso feliz, foi até um tempo televisivo muito engraçado, porque tendo Rui Cardoso – creio que foi meu aluno no Técnico – esquecido o nome do general McMaster, também ninguém dos restantes presentes o conseguiu ajudar, o que me fez rir com gosto. Ainda consigo rir neste momento. Especialistas, sempre a atuar na fronteira do conhecimento... Mas temas não faltam, pelo que vamos lá a eles.

O REGRESSO DE ISALTINO MORAIS
Pois, aí voltaremos a ter, com mui elevada probabilidade, o regresso de Isaltino Morais à autarquia de Oeiras. Custa-me acreditar que não venha a ser eleito, porque a obra que hoje está presente no concelho a si se deve em larguíssima escala.

Felizmente, os nossos fracos jornalistas – os que costumam designar o cargo do norte-americano James Mattis – Cão Raivoso – como Secretário de Estado da Defesa!! – já hoje não enganam os telespectadores com a afirmação de que Isaltino Morais foi condenado por corrupção. Mas ainda continuam a manter a falta de coragem para operar um bom documentário sobre a obra do antigo deputado e ministro.

Um dado parece agora ser certo: o regresso de Isaltino Morais à autarquia de Oeiras, sendo quase certo, dá a garantia de que o concelho voltará a desenvolver todo o seu potencial, conhecido desde há muito. Mais uns meses e teremos a prova real. Infelizmente, um tão brilhante concidadão nosso como Ffrancisco Seixas da Costa considera agora que esta iniciativa se constitui num insulto!! É caso para que se diga: ao que chegou o Estado Democrático de Direito em Portugal!

A MAIORIA ABSOLUTA DO PS
No meio de tudo isto, a entrevista recente do Primeiro-Ministro, António Costa, veio trazer uma ideia muito brandida há bom tempo sobre uma possível vitória do PS com maioria absoluta. Como teria de dar-se, António Costa salientou que nada iria mudar em face da ação que vem sendo desenvolvida na sequência da proposta de Jerónimo de Sousa, de pronto aceite pelo líder do PS. Não fora tal, e com a estratégia aderente e seguidista de António José Seguro o PS estaria hoje com um potencial elevado para se reduzir a quase nada. Como se vem dando, um pouco por todo o lado, com os seus congéneres.

Felizmente para os portugueses, não surgiu, nas anteriores eleições para deputados à Assembleia da República, uma qualquer maioria absoluta, porque se a mesma tivesse surgido nada estaria hoje como se vai vendo. E mesmo com a solução inovadora que se tem vindo a ver ainda não se materializou, por exemplo, a devolução da sobretaxa do IRS, desde sempre prometida e igualmente adiada. Uma nova maioria absoluta, seja de quem for, terá sempre como consequência, em Portugal, um modo muito absolutista de viver o exercício do poder. Veremos qual irá ser a sensibilidade política dos eleitores portugueses...

UMA DESAGRADÁVEL REPETIÇÃO
Estamos todos ainda bem recordados das tristemente célebres e mentirosas armas de destruição maciça que o Iraque de Saddam Hussein teria no seu arsenal militar, e que acabaram por conduzir à ilegal e criminosa Guerra do Iraque. Como sempre se soube e depois se mostrou, essas armas não existiam e nunca haviam existido. Um saldo de milhões, por entre mortos ou feridos.
Portugal, por força da fraqueza dos seus políticos, lá embarcou na igualmente lamentável Cimeira das Lajes. Sabemos hoje, fruto das explicações recentes de Durão Barroso, que o próprio Presidente Jorge Sampaio foi informado do facto logo desde que Aznar expôs o problema da cimeira ao seu homólogo português.

Algum tempo depois, num debate acalorado na Assembleia da República, Durão Barroso gritou para Francisco Louçã que se tratava de um aliado, e que lhe haviam sido mostrados documentos!! Simplesmente, como já se sabia e depois de comprovou de um modo real, tudo era falso. Uma reação – a de Durão – que mostrou que basta um aliado falar e mostrar supostas provas, para que tudo logo seja uma verdade garantida. Bom, viu-se o resultado...

Este comportamento dos Estados Unidos é muito antigo, para o que basta recordar o tempo da II República, quando o embaixador americano em Lisboa, em nome do seu Governo, assegurava a Franco Nogueira que os Estados Unidos não mantinham contacto, muito menos apoio, a Holden Roberto. Simplesmente, nesse tempo os políticos eram imensamente melhores que os de hoje, pelo que rapidamente o Estado Prtuguês, graças à PIDE e a uma empresa norte-americana de investigação, descobriu que Holden Roberto era recebido nos Estados Unidos com o pseudónimo de José Gilmore... Uma realidade que foi silenciosamente mostrada ao embaixador Elbrick, deixando-o autenticamente à Benfica. Outro tempo e outros políticos.


Vem tudo isto a propósito da infeliz posição do Governo de Portugal em face da agressão dos Estados Unidos a uma base aérea da Síria, operada à luz da afirmação norte-americana de que fora dali que haviam saído os aviões que bombardearam com armas químicas a tal cidade síria. A verdade é que o Governo de Portugal sabe muitíssimo bem que não existem quaisquer provas de que tal seja verdade. Além do mais, quem mente uma vez, mente sempre.

Foi, pois, com grande desagrado que escutei as palavras do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, dizendo o que disse, embora logo salvaguardando que a posição de Portugal era assumida no pressuposto da validade da informação fornecida pelos Estados Unidos. Mas não disseram estes que existiam armas de destruição maciça no Iraque? Não foi isto mesmo que Donald Trump pespegou na cara de Hillary Clinton, vezes sem conta, durante a campanha eleitoral? Portanto, quantas mais mentiras norte-americanas terão de ter lugar para que um qualquer Governo de Portugal consiga assumir uma postura de objetiva consciência? Infelizmente, vindo esta posição da palavra de Augusto Santos Silva, a dor torna-se imensamente maior. A verdade é que a nossa política não era assim no tempo da II República.


ISOLADAMENTE DE CÓCORAS
Por ser esta a postura dos políticos portugueses da III República, aí nos foi dado ver o modo gozão como Dijsselbloem tratou Mourinho Félix, que substituiu o Ministro das Finanças – e porquê? –, Mário Centeno, neste mais recente encontro do Eurogrupo.


Consigo imaginar o valor do ritmo cardíaco de Mourinho, para mais sabendo que o seu interlocutor se encontrava numa situação inamovível, tendo mesmo acabado com alguma gozação ao redor do tema. Simplesmente, o pior ainda foi depois.


Naturalmente, decorreu a reunião do Eurogrupo, sendo que a posição de Portugal passou a fazer parte de um conjunto singular, dado que ninguém dos restantes ali presentes pediu a saída de Dijsselbloem. E sejamos sinceros: quem cala, consente. Se com esta agressão dos Estados Unidos a um Estado soberano, como a Síria, completamente à revelia da (dita) Comunidade Internacional e do seu Direito, para mais depois do que se viu com a Cimeira das Lajes e com a Guerra do Iraque, a posição de Portugal tem sido sempre a mesma e que se conhece, que razões justificariam que Dijsselbloem aceitasse pedir desculpa pelo que disse e se demitisse? Nenhumas, até porque quem cala, consente.


QUANDO QUATRO É MAIOR QUE CATORZE

Recordamos todos bem ainda o recente atentado terrorista em São Petersburgo. Terão morrido, se não erro, catorze pessoas. E o tema foi noticiado em poucas horas, talvez numa noite, com a sorte de se ter podido desbaratar aquela insinuação de Ana Lourenço sobre se o que se havia passado não estaria ligado a questões internas... Valeu ali a presença de António José Telo, que de pronto salientou que o que se passou foi um ato terrorista e que o terrorismo é sempre mau e um crime.

Ontem, porém, morreram quatro pessoas em Estocolmo, e tudo foi logo diferente. Horas a fio de transmissão direta, com profusão de ditos especialistas, que falam de tudo, mas sempre salientando nada saberem de quanto estão a tratar. Nem se recordam, sequer, de que um antigo Primeiro-Ministro da Suécia foi assassinado sem que se tenha tido a coragem de contar a verdade, quase desde sempre conhecida.

É hoje fácil perceber que Rudolfo Bacelar Begonha teve toda a razão quando ontem expôs a verdade do tempo que passa: o mundo está em guerra. Faltou-lhe a coragem, porém, para dizer que os Estados Unidos são quem vem levando a cabo essa guerra, um pouco por todo o lado, como por igual que essa guerra sempre acaba por se inserir numa outra, mais antiga e mais vasta, e que é de natureza religiosa. Nós chegámos hoje a este ponto: há terrorismo bom e terrorismo mau, o que explica que quatro seja agora maior que catorze.

GUERRA À VISTA
À beira dos quarenta e sete anos sobre a Revolução de 25 de Abril, começa a tornar-se evidente que uma guerra mundial em larga escala poderá estar para vir. Isso mesmo se pôde já perceber das notícias vindas a público sobre o apoio do PS e do PSD à ideia de fazer regressar o serviço militar obrigatório. Simplesmente, estas posições, mais que expectáveis e típicas destes dois partidos, não seriam suficientes para concluir sobre o que poderá estar para vir.

Diferente e muito mais conclusivo é o caso da posição assumida pelo PCP. No fundo, os comunistas perceberam esta realidade simples: faliu o comunismo e também está hoje numa falência avançada a social-democracia e o (dito) socialismo democrático. Portanto, sendo essencial manter um discurso de coerência, muitas vezes repleto de razão, talvez seja preferível apoiar o regresso do serviço militar obrigatório, porque os nossos militares futuros lá terão de ir combater sob o comando dos Estados Unidos... De molde que, com este apoio ao regresso do serviço militar obrigatório, haverá mais uma razão para que estes percebam que do lado do PCP não surgirão obstáculos. Coisa outra é a que é dita...

Se o leitor se determinar a estar atento, constatará que o PCP também nunca terá sido tão defensor como hoje da intervenção das estruturas da Igreja Católica no combate aos mil e um males da nossa dita democracia deste tempo... Enfim, terríveis coisas deste tempo.

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