Que tal, António Guterres?

|Hélio Bernardo Lopes|
Como certamente recordarão os leitores mais atentos deste nosso jornal, foram extremamente frequentes as vezes em que salientei a ausência de referências, por parte de António Guterres, durante a sua campanha para Secretário-Geral das Nações Unidas, ao conflito entre Israel e a Palestina. Passavam os dias, sucediam-se as intervenções, e nem uma palavra sobre o tema.

De modo concomitante, os nossos políticos, os nossos jornalistas, os analistas e os comentadores, nunca referiam aquele conflito. Apontavam sempre, sem real razão, o caso da Síria, sendo muito raro que apontassem o terrorismo, embora por vezes tivessem que o fazer. A verdade é que o terrorismo só muito marginalmente tem que ver com a Síria, antes e muito acima do resto, com a atuação dos Estados Unidos, e do Ocidente em geral, contra Estados de predominância islâmica. E isto quando nem sequer se imaginava que Donald Trump viesse a ser Presidente dos Estados Unidos.

Como teria de dar-se, o tema impôs-se, agora também muito potenciado pela presença de Donald Trump na Casa Branca. Certamente por tudo isso – de algum modo, claro está –, Alexandra Lucas Coelho deu ontem à estampa o seu texto, O QUE GUTERRES FARÁ COM 50 ANOS DE OCUPAÇÃO ISRAELITA NA ERA TRUMP. É caso para que digamos: estamos para ver…

No entretanto, o Parlamento de Israel aprovou ontem uma lei que vai permitir ao Estado apropriar-se de centenas de hectares de terras palestinianas na Cisjordânia ocupada. Uma lei aprovada com uma ligeira vantagem de oito votos. Em todo o caso, um diploma que foge à tática desde sempre usada por anteriores Governos de Israel: deixar que ocorra a ocupação pelos cidadãos; defendê-los depois da ira dos palestinianos; legalizar, mais tarde, a ilegalidade praticada, mas que fica.

Ao mesmo tempo, um jornalista palestiniano foi detido pelas autoridades de Israel, mesmo sem acusação nem processo. A nossa grande comunicação social, como seria de esperar, quase não tocou neste caso. Tudo foi não se ter passado a detenção com Marine Le Pen. Temos hoje a prova desta realidade, com algo a anos-luz de uma detenção, passado há dias em França.

Claro está que se percebe hoje muito claramente que raros na Comunidade Internacional se preocupam com os palestinianos, concedendo a Israel o direito incondicional de violar, reiteradamente, as mil e uma resoluções das Nações Unidas. No fundo, como tenho referido, também de modo frequente, este comportamento da Comunidade Internacional – falar sem parar, há décadas, mas nada fazer – constitui uma parte da guerra do Ocidente contra o Islão.

Esta guerra religiosa tem também uma outra componente: a da guerra do Ocidente contra a Rússia, onde predomina a religião católica ortodoxa. Como se percebe com toda a facilidade, a Rússia não irá nunca invadir a Europa, ou os restantes Estados bálticos. O problema é que são precisos argumentos. E se não existem, criam-se. Também com o apoio da grande comunicação social, igualmente dependente da tal nomenklatura neoliberal mundial. Mas, enfim, vamos lá aguardar pelas palavras de António Guterres, embora eu não duvide, mesmo minimamente, que nada de realmente válido e eficaz irá fazer com o conflito entre Israel e a Palestina. Lê-se nas estrelas…

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN