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Neste Verão foi accionado um plano ambicioso nunca antes tentado: mudar as 1200 toneladas de base para uma outra localização, 24 quilómetros para Nordeste, um módulo de cada vez, de modo ficar do lado "estável" da placa, caso a fenda nos pregasse uma partida nos próximos anos. Este projecto teve bastante atenção nos media britânicos e tivemos a mesmo a BBC a filmar aqui dois documentários, um em cada um dos verões que aqui passei.
No entanto a placa de gelo de Brunt trocou-nos as voltas mais uma vez. No final de Outubro descobrimos outra fenda, que apareceu durante o Inverno, perpendicular à primeira e a norte da estação. Está-se a propagar a cerca de 500 metros por dia e deve fazer colapsar parte da placa antes do fim do ano. Quando isso acontecer, é impossível prever o comportamento do resto da placa, pois o jogo de pressão do gelo muda radicalmente se a parte norte da placa desaparecer.
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Ricardo Almeida |
Estamos agora a desactivar todos os projectos científicos que requerem intervenção humana constante, como os radares de que tomei conta no ano passado, pois não fica aqui ninguém para o fazer. Por aqui ficarão apenas umas estações meteorológicas autónomas e uma rede de GPS, que vai monitorizar o desenvolvimento da placa durante o Inverno. Este último projecto também é da minha responsabilidade e por isso vou ser um dos últimos a abandonar Halley.
Desde 1956 que Halley funcionou ininterruptamente como uma das principais estações científicas do programa antárctico britânico. Foi aqui que em 1985 se descobriu o buraco de Ozono, revelação que deu origem, quatro anos mais tarde, ao protocolo de Montreal que baniu os CFCs a nível mundial. 2016 foi o último inverno de continuidade. Com sorte as fendas fazem o que têm a fazer e, se a estação sobreviver, os Invernos podem regressar a Halley em 2018. Ou podemos ter que esperar 10 anos. Nesta altura é tudo muito incerto ainda. Está a ser uma aventura a 1000 à hora. Só quando chegar a Portugal é que vou ter tempo para respirar fundo e contar o que aqui se passou como deve ser.
Ricardo Almeida Técnico de investigação, Halley Research Station, Antárctida
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva