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| |Hélio Bernardo Lopes| |
Dado que conhecia a terra em causa, de pronto lhe escrevi uma carta, alertando-o para o facto de a política do Governo ir acelerar a pobreza geral e, por aí, criar as condições que acabariam por ajudar à chega da eutanásia a Portugal.
De seguida, escrevi um texto meu a que dei o título, VEM AÍ A EUTANÁSIA. Nele desenvolvi, em essência, o raciocínio que expusera na carta ao referido cardeal. Bom, os anos passaram e, tal como sempre percecionei, aí nos chegou a eutanásia. De resto, apoiada mesmo por muita gente com referências de natureza católica. Como se dizia em tempos, à laia de brincadeira, tinha de ser (assim).
Conhecem os leitores que ninguém se tem debruçado adequadamente sobre este tema, de modo que só agora se estão a chamar os bombeiros para atacar o problema acabado de surgir. Uma situação similar à referida por um conhecido meu das lides político-partidárias do tempo da AD, Manuel Diniz da Fonseca.
Dizia-me em certa noite este meu conhecido, passeando na estrada, que os católicos tinham uma grande preocupação com a vida intrauterina, mas nada ligavam às terríveis dificuldades de tanta gente já com vida extrauterina. E queixou-se-me, até, do modo como eram tratadas as mães solteiras, então olhadas como autenticamente pecadoras.
Diz-se agora, ao nível de muitos combatentes da eutanásia, que há que olhar para a vida e criar as condições para que as pessoas em grande sofrimento possam dispor das condições para evitarem terríveis sofrimentos. Infelizmente, todos nós sabemos que nem lares há para tratar de pessoas sem possibilidade de acompanhamento humano, quanto mais esperar por uma situação próxima da universalidade dos cuidados paliativos!
Sejamos sinceros e intelectualmente honestos: nós criámos uma sociedade onde as pessoas descobriram que já não são o centro objetivo da ação política dos governantes. Muito acima delas e dos seus direitos naturais, estão os interesses dos grandes grupos de que diariamente se ouvem notícias, invariavelmente sem grandes efeitos. Como costumo dizer, tudo acaba sempre por ser nada. Mais: as pessoas acabaram mesmo por percecionar que também a democracia é hoje já só um mero ritual. Resultado desta realidade? Apatia, desinteresse e fuga a qualquer tipo de sofrimento.
Em face de tudo isto, olhando com um mínimo de atenção e de intuição o futuro, nada há que justifique o não avanço da eutanásia, ou de uma outra prática que permita fugir a um sofrimento sem sentido, para mais quando tão poucos ganham e gastam à tripa-forra e quando uma tão vasta legião se vê impedida de aceder a cuidados básicos de saúde. E já agora, recordando uma dúvida minha já apresentada: poderia a família do jovem Rubem Cavaco pagar os custos da sua intervenção hospitalar? Não sendo ricos, como iriam pagar? Semearam-se ventos...
