A Eutanásia é uma chatice...

|Hélio Bernardo Lopes|
Com enorme graça foi como ontem acompanhei a QUADRATURA DO CÌRCULO, onde quase só se falou sobre a eutanásia, tendo ainda conseguido batrumpar-se um pouquinho, já no final.

A graça que encontrei neste programa deveu-se ao modo redondo, objetivamente fugidio, como as tomadas de posição sobre a eutanásia foram sendo apresentadas. Com exceção de António Lobo Xavier, que suportou o seu ponto de vista no fator religioso, os residentes do programa, em grau maior ou menor, andaram verdadeiramente aos paus. Ainda assim, muito mais com Jorge Coelho que com José Pacheco Pereira.

Seguindo António Lobo Xavier o magistério da Igreja Católica Romana, próximo da Opus Dei, foi por aí que recusou, liminarmente, a ideia de legalizar a eutanásia. Depois, ainda ilustrou a sua posição com questões ligadas ao Direito, mas foi claro nos fundamentos da sua posição. Um não, portanto.

Diametralmente oposta foi a posição de Jorge Coelho, que pode resumir-se na criação de uma espécie de cortina de fumo. O tudo em nada, tão típico das suas posições em temas complexos e de evolução indeterminada.

Disse ali Jorge Coelho que não seria possível escolher uma ocasião pior que a atual para tratar este tema. Naturalmente, ele nunca se interessou por começar a tratar o tema calmamente, a tempo e horas, e de um modo discreto, de forma a estar o mesmo em condições de ser tratado no domínio público. Ou seja, um nim.

Claro está que se trata de uma fuga ao tema, porque o mesmo é complicado e nunca poderá concitar unanimidades. De resto, como muito bem salientou José Pacheco Pereira, os argumentos de quem é contra a eutanásia são os mesmos que foram apresentados sobre o aborto e, em última análise, são sempre religiosos e oriundos da doutrina da Igreja Católica Romana. O resto, claro está, é mera conversa.

Por fim, José Pacheco Pereira. Neste caso a sua posição foi muito clara. Mas também procurou um ponto de fuga, que foi a ideia de criar temas transpolíticos. Ainda assim, é um caminho aceitável, mas que falha no domínio do controlo da prática do ato destinado a ajudar à materialização da vontade do paciente. Só que não foi claro a propósito da alteração legal da parte hoje criminalizável do tema. Como se percebe, não se pode fugir a uma tal questão num tema que envolve a morte de alguém a pedido e com ajuda de terceiros. Um sim-assim-assim.

Engraçado foi o terem todos percebido que se impõe pôr um fim futuro em conversas sobre este tema – é essencial esperar a melhor ocasião, não a pior, como no-lo disse Jorge Coelho –, até por ser muito mais simples batrumpar, hoje uma moda quase universalmente aplicada, dado ferir, aparentemente, os gigantescos interesses da nomenklarura neoliberal mundial.

Simplesmente, neste domínio do batrumpar, foi interessante perceber que José Pacheco Pereira acha que num Estado democrático e normalmente organizado e funcional os diplomatas deverão ter o poder de discordar, em público, das orientações políticas do Governo de que são funcionários. O que esta moda de hoje – batrumpar – permite dizer e (aparentemente) defender!! Imagine agora o leitor que esta ideia pega em Portugal. O que diria, então, José Pacheco Pereira? E se dos diplomatas se passasse para os militares ou os polícias? E se fosse com os das secretas? Sim, porque democracia é democracia!

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