Um Estado dentro do Estado Norte Americano

|Hélio Bernardo Lopes|
A enorme maioria do portugueses atentos ao decurso da vida do País tem certamente conhecimento da condenação, com pena suspensa, do nosso concidadão Jorge Silva Carvalho, que liderou o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa – o SIED. 

E que este deu público conheciento de que cerca de noventa por cento da atividade praticada era ilegal. No fundo, nada que desde sempre se não conhecesse, fosse com o SIED ou em qualquer outro Estado da Comunidade Internacional.

Correndo o risco de repetir o já bastas vezes exposto – de facto, nunca é excessivo expor estes crimes –, na tal velha e democrática Inglaterra a polícia, a fim de contentar a opinião pública, condenou, em tempos sucessivos, Os Seis de Birmingham, Os Quatro de Guilford e Os Sete Maguire. E sempre com provas que forjou contra estes dezassete inocentes.

Procedendo de ingual modo, há também que recordar o Caso Mattei, ou o homicídio de meia centena de argelinos em Paris, em certa noite na sede nacional da Gendarmerie, com os respetivos corpos a serem lançados ao Sena, e com tudo a ser protegido dos tribunais através da utilização da lei do segredo de Estado. E tudo isto, claro está, em apregoados Estados de Direito Democrático...

Do outro lado do Atlântico também se podem citar a ação da NSA, em matéria de escutas a tudo e todos e por todo o mundo, ou a condenação e posterior prisão do antigo diretor da CIA, Richard Helmes, ou a constante violação da lei do tempo por parte da CIA de Helmes e Nixon, e que levou a que o novo diretor, Stansfield Turner, e Jimmy Carter pusessem na rua mais de duas centenas de funcionários daquela agência de espiões. Não faltam à CIA crimes de todo o tipo e feitio. Crimes que deixam a velha PIDE num lugar próprio de brinquedos.

Finalmente, é bom recordar o caso GAL, em Espanha, ou a sórdida campanha de calúnias montadas pela secreta britânica contra certo líder trabalhista, assim o levando a perder as eleições que se aproximavam. E também os homicídios de Aldo Moro e de Olof Palme terão tido, quase com toda a certeza, a mão longa e suja da CIA.

Por tudo isto, e pelo muito mais que se conhece, a CIA é uma organização que se não deve nunca recomendar a ninguém. Os seus crimes no Vietname, no Laos, no Camboja, no Iraque, ou nos Estados do subcontinente americano, dão para escrever uma obra numas boas dezenas de volumes grossos.

Embora sem estranheza, continua a causar algum espanto o modo como a CIA se vem posicionando em face da vitória de Donald Trump. Noutro tempo, o homicídio deste futuro presidente poderia ser uma natural porta de saída, mas hoje, com a nomenklatura neoliberal mundial bem representada no Congreso Norte-Americano, talvez uma tentativa de destituição num prazo curto, ou médio, seja o caminho mais preferível. Para os interesses daquela nomenklatura neoliberal mundial, objetivamente, Trump é um risco...

Foi, pois, com algum espanto que pude assistir à advertência de Brennan ao futuro presidente: deve pensar melhor no que vier a dizer a partir da sua tomada de posse. E logo completou: a espontaneidade não é algo que proteja os interesses da segurança dos Estados Unidos, porque quando fala, ou raciocina, existem implicações para os Estados Unidos.

Mesmo que tal seja uma evidência, não pode tolerar-se que um diretor de um serviço de informações diga isto publicamente. O que significa, para lá de uma ameaça pessoal ao futuro presidente, uma objetiva interferência na vida política norte-americana. Simplesmente, Brennan vai mais longe, porque chega ao ponto de opinar, ainda diretor da CIA e com Obama em funções, sobre o modo como o futuro presidente deverá atuar politicamente nas relações dos Estados Unidos com a Rússia. No fundo, o que Brennan nos diz é que Donald Trump deve seguir a política definida pela CIA!

Eu até compreendo Brennan, bem como Obama ou Hillary, porque a sua estratégia de destruirr a Rússia e de explorar as suas riquezas simplesmente falhou. Poderiam ter prosseguido com a anterior estratégia de criar um conflito mundial, mas os americanos, usando o seu sistema eleitoral, escolheram Donald Trump. Para já, pois, esse grande conflito mundial, ao que parece, entrou em paragem.

Infelizmente, Brennan tem neste domínio um azar: é que os mais conhecedores sabem dos casos por mim aqui expostos ao início deste texto. E foi isso mesmo que Donald Trump percebeu muitíssimo bem. O que Brennan e a sua CIA vêm fazendo – com o apoio de McCain, Obama, Hillary e outros –, de facto, não difere muito do que fizeram os nazis alemães ao invadirem a Polónia, mostrando o brasão de armas polaco, com a soldadesca a rir de gozo. E quem diz nazis alemães, diz todos os grandes poderes, mormente os incontroláveis, como se dá com as secretas. Os mais conhecedores de há muito perceberam que a CIA se tornou num autêntico Estado dentro do Estado Norte-Americano. Por isso George W. Bush avisou Barack Obama contra o tratamento com as secretas. Lembrando um velho anúncio, para mais com o pai que tem, ele lá sabia porquê...

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN