Três reflexões simples

|Hélio Bernardo Lopes|
O tempo que hoje passa por nós surge-nos repleto de novidades. Muitas destas comportam um enorme grau de estranheza, sendo extremamente inesperadas. 

Três destes dados novos surgem-nos ao redor do BREXIT, do relativo à vitória de Donald Trump e do que envolve as ditas fraudes nas eleições norte-americanas. É sobre estes três temas que aqui vou escrever uns alinhavos, à luz do que penso ser a lógica de todos eles.

A vitória do BREXIT foi algo de natural, seja com mentiras e verdades pelo meio. Aliás, é sempre assim nos processos eleitorais. As autoridades legalmente competentes determinaram-se a convocar um referendo junto dos povos do Reino Unido, a fim de auscultarem a vontade destes em face da saída ou da permanência do Reino Unido no seio da União Europeia.

Um tal referendo, dentro da lógica das coisas, teria de ser vinculativo, ou tudo não teria passado de uma brincadeira cara e desacreditadora do mecanismo democrático. Se os eleitos pelos povos do Reino Unido os representam, ao convocarem o referendo, o que fizeram foi colocar a decisão a um nível mais elevado. Eleitos pela população, seus representantes legais, decidiram consultar diretamente a população. Bom, o resultado foi o que se sabe. Portanto, o que deve seguir-se, à luz das regras da democracia, é seguir a decisão dos eleitos, depois seguida da dos eleitores.

A recente decisão do Supremo Tribunal do Reino Unido veio mostrar que a democracia pode realmente não passar de uma mascarada. A seguir-se a recusa da decisão concedida pelos eleitos à população, tal mostrará que os resultados de uma eleição no Reino Unido só servem se convierem aos interesses depositados no poder decisório do eleitos. Uma aldrabice.

O segundo caso refere-se à vitória de Donald Trump, mas com menos votos dos eleitores que a sua opositora. Simplesmente, a votação decorreu dentro das regras estabelecidas desde sempre. Nem sequer é algo de inovador ou singular nos Estados Unidos. O que justifica esta pergunta: o que se passa hoje no mundo que leva a disparates como estes dois?

Por fim, a recente ideia de Donald Trump, a cuja luz terão existido a favor de Hillary Clinton milhões de votos ilegais e a mais. Bom, não é nada que seja objetivamente impossível. Basta recordar o que se disse sobre o erro na contagem dos votos, que, supostamente, teria favorecido Donald Trump. Feita a recontagem, os dados, ou estavam corretos, ou as incorreções ainda aumentaram os votos do atual Presidente dos Estados Unidos.

Estas três realidades mostram algo muito simples e evidente desde há muito, embora raramente tratadas na grande comunicação social, onde os grandes interesses assentaram arraiais: a condução política no mundo, seja nos Estados ou nas instituições regionais, tem vindo a ser prosseguida à revelia dos interesses das pessoas, apenas condicionada pelos lucros dos grandes grupos económicos e financeiros. Ou seja: a democracia já não é precisa.

Hoje vive-se já numa ditadura económica e financeira, mas escondida por uma prática democrática completamente esvaziada de conteúdo e de eficácia. O recente caso da TSU veio mostrar como a Concertação Social se constitui numa realidade que só serve se os seus resultados convierem aos interesses instalados num ou noutro partido e no que eles representam. De resto, ela é assim desde há muito, só tal se tornando claro desta vez.

Qual é, então, a causa de todas estas realidades? É simples: a globalização é algo de antinatural, porque cada Estado tem a sua religião de referência, as suas tradições, a sua ordem moral, a sua legislação desenvolvida desde há muito, a sua língua, e todas as restantes caraterísticas que a mostram como uma singularidade própria. Furar estas centenas – mesmo milhares – de realidades terá sempre de dar o resultado a que se chegou. Hoje, ninguém se sente seguro e já não se acredita em nada nem em ninguém. Tudo, num ápice, pode ser nada. E mesmo a grande comunicação social, como se vai vendo por toda a parte, pode muito bem realizar um mau trabalho parra com os direitos naturais das pessoas. Com o neoliberalismo e a globalização instalaram-se no mundo os grandes interesses de uma nomenklatura neoliberal e mundial, sem pátria nem outros valores que não o dinheiro. É essa nomenklatura que opera a atual reação ao regresso das coisas à sua ordem natural. Uma reação que tem lugar através de uma grande comunicação social por igual (quase) completamente dominada.

Espero agora que as autoridades norte-americanas operem um estudo capaz e credível sobre as ilegalidades cometidas nas recentes eleições, mas também que o futuro Procurador-Geral nomeie um procurador especial para analisar o caso dos e-mails manuseados através do servidor privado de Hillary Clinton. Objetivamente, aquele pedido de Barack Obama a Donald Trump, para que tal investigação não seja feita, é estranho e deixa no ar mil e uma dúvidas. Mas não dúvidas para mim, porque tenho quase a certeza de que boa parte de tais e-mails foram trocados com gente do Estado Islâmico ou de outros grupos criminosos a operar na Síria. Com o neoliberalismo e a globalização a democracia foi-se...

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